19 DE AGOSTO DE 2019
MOBILIZAÇÃO
Indignação leva à união
Entornou o caldo da indignação nas duas maiores forças de combate a crimes em âmbito nacional, a Polícia Federal (PF) e a Receita Federal. Integrantes das duas corporações alertaram, nos últimos dias, para interferências diretas de Jair Bolsonaro em nomeações políticas para cargos estratégicos, sem critérios técnicos e que trarão prejuízo ao combate a delitos como contrabando e corrupção.
Ainda na quinta-feira, o presidente anunciou, de forma abrupta, a remoção do superintendente da PF no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi. "Motivo: questão de produtividade", justificou Bolsonaro, ao fritar o delegado. A troca de Saadi por um delegado de Pernambuco estava prevista, mas o presidente foi além e decidiu indicar outro preferido. Falou que o Rio seria comandado por um policial lotado em Manaus. Mais tarde, sinalizou ter desistido da escolha.
A indicação provocou princípio de rebelião na PF. Entidades de policiais e delegados divulgaram notas de repúdio à "interferência política" nas nomeações. Há suspeita de que o presidente esteja descontente com a possibilidade da PF investigar seu filho Flávio.
Bolsonaro também cogita mudanças na Receita. Reclamou que sua família sofreu "devassa" dos auditores e sugeriu que podem haver trocas. Na real, já começaram.
Em mensagem de WhatsApp a colegas, o chefe da aduana do porto de Itaguaí, José Alex de Oliveira, informou que será trocado por um auditor de Manaus "que em 35 anos de Receita não tem passagem pela aduana e nem assumiu chefias". Na carta, que chegou à imprensa, Oliveira lembra que a região de Itaguaí é disputada por milícias interessadas em mercadorias vindas da China e em exportações para a Europa. São corriqueiras descobertas de drogas e armas que abastecem milícias e tráfico.
Auditores e policiais federais estão convencidos de que Bolsonaro quer dar o troco a quem ousou fiscalizar a ele ou seus familiares. Cobram do ministro da Justiça um posicionamento. Sergio Moro permanece em silêncio.
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