sábado, 17 de agosto de 2019



17 DE AGOSTO DE 2019
DIÁRIOS DO MUNDO

Bolsonaro acerta sobre a Noruega

Em resposta à suspensão de repasses para a Amazônia pelo governo norueguês, o presidente Jair Bolsonaro ironizou:

- A Noruega não é aquela que mata baleia lá em cima, no Polo Norte, não? Que explora petróleo também lá? Não tem nada a oferecer para nós. Pega a grana e ajuda a Angela Merkel (chanceler alemã) a reflorestar a Alemanha.

Apesar de, do ponto de vista diplomático, a frase ser pouco adequada à tradição das boas relações exteriores brasileiras, a Noruega, sim, mata baleias.

Junto com Islândia e Japão, a nação da Escandinávia questiona a moratória estabelecida em 1986 pela International Whaling Commission, IWC (Comissão Baleeira Internacional), que proíbe a pesca comercial desses animais.

Em setembro do ano passado, a Noruega foi um dos países que votaram a favor do fim da proibição na reunião da comissão, em evento que trouxe, pela primeira vez, o tema para o Brasil, em Florianópolis. Acabou derrotada junto com as demais nações que defendiam a retomada da caça. O governo brasileiro votou com a maioria pela manutenção da moratória.

Mesmo assim, a Noruega aproveita-se de brechas legais do regime internacional, questionando-o, para continuar caçando baleias. O consumo da carne é uma tradição no país, embora tenha diminuído bastante a venda do prato em restaurantes.

No ano passado, o país anunciou o aumento de 28% de sua cota anual de caça, até 1.278 exemplares, na tentativa de estimular a indústria. As autoridades argumentam que, há anos, os baleeiros não atingem as cotas do governo.

A caça foi retomada em 1993. Além do hábito de consumo, um dos argumentos do governo é de que o país detém quantidades grandes de baleias em seus mares - mais de 100 mil exemplares da espécie minke.

Em 2017, um documentário exibido pela rede de TV pública da Noruega, a NRK, chocou boa parte da população e indignou ambientalistas. Intitulado Dag Myklebust, o trabalho revelou que 90% de todas as baleias minke mortas por ano são fêmeas e quase todas estavam grávidas.

Ficando na mesma frase, no mesmo assunto, ambiente, mas mudando de país. Alemanha precisa ser reflorestada?

Na quinta-feira, a embaixada do país europeu no Brasil publicou em sua página no Facebook um vídeo respondendo a Bolsonaro: "Você sabia que a Alemanha é um dos países mais florestados da Europa? As florestas alemãs são destinos turísticos imperdíveis", diz a chamada.

O país de Angela Merkel é conhecido pelo pioneirismo na política ambiental e se destaca internacionalmente na proteção do clima. Lidera as iniciativas globais de ampliação de energias alternativas e vem, há décadas, reduzindo emissões de gases poluentes. Basta se deslocar pela Alemanha para observar como o uso de energia limpa é popular, com painéis solares em fábricas e residências. Também são comuns os cenários com aerogeradores.

O país tem um plano de abandono sucessivo da energia nuclear até 2022. Em 2030, as emissões de gases do efeito estufa devem ser reduzidas em 55% em relação a 1990, com a intenção de alcançar no mínimo 70% até 2040.

"Sem sigilo da fonte, liberdade da imprensa será afetada"
ENTREVISTA: GUILHERME CANELA Conselheiro regional da Unesco para Comunicação e Informação

No 13º Congresso Estadual de Magistrados, da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), o conselheiro regional da Unesco para Comunicação e Informação, Guilherme Canela (foto), alertou para os riscos à liberdade de imprensa e expressão.

Sua palestra abordou o tema redes sociais e proteção de dados. Que aprendizados se pode tirar dos vazamentos das mensagens da Lava-Jato?

Não posso comentar casos específicos porque a Unesco comenta situações nas quais fez avaliação independente. Não quer dizer que, no futuro, a Unesco não venha a fazer uma avaliação específica, sendo solicitada pelo Estado brasileiro. Mas um elemento que está nos preocupando em vários países é o crescimento, nos últimos anos, de solicitações que jornalistas revelem suas fontes. A mensagem é muito clara: a fonte jornalística tem de ser protegida. Se há um crime no que se refere a como a informação original foi gerada, a perseguição a esse crime tem de ser feita pelos poderes competentes em relação à fonte original, mas não exigindo que o jornalista revele como obteve os dados e quem é a fonte. Como padrão internacional, a questão do sigilo da fonte é fundamental.

Observa-se o crescimento de uma tendência de acabar com garantias do trabalho jornalístico em outros países?

Há muitas decisões judiciais, exigindo que o jornalista informe qual é a sua fonte. A proteção do sigilo da fonte no exercício do jornalismo é parte integrante dos indicadores internacionais de liberdade de expressão. Quando a gente olha os documentos internacionais sobre o que significa ter uma imprensa livre, você vê que mencionam três categorias: defesa de imprensa livre, independente e plural. Para que esse trinômio seja alcançado há elementos fundamentais. Um deles é o sigilo da fonte. Se você não garante o sigilo da fonte, liberdade, pluralidade e independência da imprensa vão estar diminuídas ou seriamente afetadas. Outra questão que tem a ver com vazamentos é a necessidade de que os países desenvolvam princípios legais e políticas públicas de proteção de denunciantes. Alguns vazamentos que são considerados ilegais pelas legislações nacionais, mas que expõem casos de corrupção ou violações de direitos humanos, se encaixariam na qualificação de proteção aos denunciantes.

A Unesco se preocupa com o fenômeno das fake news e campanhas de desinformação?

Entendemos que o termo fake news é incorreto e desvaloriza a ideia de notícia como elemento central do jogo democrático. Mas evidentemente acabou pegando essa expressão. A Unesco, em seus documentos, utiliza a expressão desinformação. Porque se é notícia não é fake. Se é fake não é notícia. Em nosso último informe sobre tendências mundiais de liberdade de expressão, fizemos um alerta de que há uma crescente animosidade do discurso de líderes políticos contra a imprensa e inclui esse discurso de dizer que o conteúdo jornalístico é fake news. Mas não só, alguns governantes usam expressões como imprensa corrupta.

Alguns líderes, como Donald Trump, a chamam de inimiga do povo.

A Unesco alertou que esse discurso depreciativo, em alguns contextos, pode gerar violência real, física, não só online, o que já é um problema, contra jornalistas. No caso online, estamos verificando que alguns desses discursos intensificam a violência contra mulheres jornalistas, que acabam recebendo conteúdo de cunho sexista e misógino.

A SEMANA QUE EU VI

ONDA KIRCHNER

A semana começou com a América Latina surpresa com a vitória, no domingo, de Alberto Fernández e a vice, a ex-presidente Cristina Kirchner, sobre Mauricio Macri e Miguel Angel Pichetto nas prévias às eleições argetinas. A possível volta do kirchnerismo à Casa Rosada acendeu o alerta entre os governos de direita.

SUSPEITO DE TERRORISMO

Um egípcio suspeito de ter ligação com a rede terrorista Al-Qaeda e procurado pelo governo dos EUA está vivendo no Brasil. A informação veio a público na segunda-feira por meio do FBI (polícia federal americana). Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim ingressou no Brasil em 2018.

TENSÃO EM HONG KONG

Militantes pró-democracia ocuparam por dois dias, segunda e terça-feira, o aeroporto de Hong Kong (foto), obrigando o oitavo terminal mais movimentado do mundo a cancelar voos. A China ameaça sufocar a revolta e reúne tropas.

TRUMP E A GROENLÂNDIA

Donald Trump teria consultado seus assessores sobre a possibilidade de os EUA comprarem a Groenlândia, segundo o Wall Street Journal divulgou na sexta-feira. O presidente teria curiosidade sobre os recursos naturais e a relevância geopolítica da área. Não é o primeiro mandatário americano a se interessar pela área. O território pertence à Dinamarca.

RODRIGO LOPES

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