quinta-feira, 29 de agosto de 2019



29 DE AGOSTO DE 2019
AMBIENTE

Setores mantêm apoio, mas criticam comunicação

Ainda que apontem falhas de comunicação na condução da crise das queimadas e discordem do tom adotado pelo presidente, representantes de setores que apoiaram Jair Bolsonaro nas eleições seguem, em sua maioria, ao lado do governo na agenda de reformas. Para políticos, empresários e líderes do agronegócio ouvidos por ZH, o chefe de Estado brasileiro agiu de forma correta ao defender a posse da Amazônia e ao não ceder às pressões do colega francês, Emmanuel Macron.

À frente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira diz que o setor "segue absolutamente fechado com Bolsonaro". Embora grandes produtores rurais como o ex-ministro Blairo Maggi tenham externado preocupação frente ao risco de boicote comercial ao país, Gedeão afirma não acreditar nessa hipótese.

- O pano de fundo da crise é uma guerra comercial entre o agronegócio brasileiro e o francês, mas nosso foco é a Ásia. Somos "asiadependentes". Se a China reclamasse, aí sim me preocuparia. O fato é que Macron está desgastado pela opinião pública francesa e tentou achar um bode expiatório - opina Gedeão.

Presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), Luis Fernando Fucks compartilha a percepção:

- O posicionamento de Bolsonaro está sendo extremamente coerente com o que ele falou desde o inicio.

Na avaliação do empresário Ricardo Felizzola, do Grupo Parit, Macron foi oportunista ao tomar a frente nas críticas ao Brasil, por temer os efeitos do acordo entre Mercosul e União Europeia.

- De Bolsonaro, a gente pode esperar qualquer coisa. O que não pode é o presidente francês chamá-lo de mentiroso e dizer que a Amazônia é território internacional. Goste-se ou não de Bolsonaro, quem agiu de forma incorreta foi o presidente da França - sustenta Felizzola.

Bolsonarista de primeira hora, o senador Luis Carlos Heinze (PP) irrita-se ao ser questionado sobre a ação do presidente no caso:

- Somos um dos países que mais preserva o meio ambiente. Quem tem moral para falar de nós? Aí os agricultores franceses, que são os mais subsidiados do planeta, vêm fazer provocações. Eles que nos respeitem. A Amazônia é do Brasil.

Prejuízos

Outros políticos que declararam voto em Bolsonaro em 2018 destacam a importância de defender a hegemonia brasileira no território, mas fazem ressalvas à estratégia de comunicação do Planalto no auge da crise. Entre eles, está o deputado federal Jerônimo Goergen (PP). Para ele, o presidente "falou demais" e acabou dando argumentos aos adversários. Goergen faz a ressalva de que a crítica é "construtiva":

- O fato de dizer que precisava de apoio traria credibilidade no cenário internacional e não daria discurso para que usassem isso como barreira comercial.

Parlamentares que apoiaram Bolsonaro no 2º turno têm parecer semelhante. O deputado federal Marcel van Hattem (Novo) aponta, entre pontos negativos, o temperamento do presidente:

- A retórica agressiva não contribui em nada, ainda mais sabendo que estávamos certos. Macron está usando essa questão para recuperar apoio na França. Foi completamente infeliz e desnecessário falar da família (Bolsonaro reagiu a comentário sobre a esposa de Macron e depois apagou).

Para o senador Lasier Martins (Podemos), o presidente tem de aprender a conter os ímpetos:

- Como sempre, Bolsonaro falou sem pensar, de forma precipitada. Isso só causa prejuízos.

JULIANA BUBLITZ

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