19 DE AGOSTO DE 2019
CLÁUDIA LAITANO
Robôs
Em 2019, os robôs são uma não ficção científica. Se não têm o aspecto bonachão e servil de um humanoide de lata (Perdidos no Espaço, família Jetson...), tampouco costumam transformar-se em criaturas sinistras e mal-intencionadas (2001 - Uma Odisseia no Espaço). Em geral, são tão anódinos quanto uma colheitadeira, e sua principal marca até agora não é a personalidade, mas a eficiência.
Executando tarefas complexas ou substituindo uma vassoura de piaçava, tornaram-se ferramentas indispensáveis no século 21. Na taxonomia das criaturas que se locomovem sobre a Terra, porém, continuam mais próximos de um automóvel do que de um labrador.
A ficção e o senso comum sempre imaginaram um futuro distópico em que máquinas malignas e superinteligentes tratariam a espécie humana mais ou menos como o Dr. Smith tratava o Robô em Perdidos no Espaço, mas a realidade tem se mostrado mais simples e talvez mais perversa. Ainda não precisamos nos preocupar com supercomputadores que planejam dominar o mundo ou com robôs que compõem melhor do que Mozart, mas já estamos vivendo, na política e na economia, os efeitos brutais do avanço da automação sobre os empregos.
Na pizzaria em frente à minha casa, parte do trabalho do garçom é desempenhada agora por um tablet que fica sobre a mesa e tira os pedidos dos clientes. As pizzas ainda chegam à mesa levadas por um bípede munido de polegar opositor, mas até quando? Na Amazon, boa parte dos milhões de encomendas que circulam pela empresa todos os dias é manuseada apenas por robôs. Mas, para cada tarefa que as máquinas ainda não conseguem desempenhar, há dezenas de cientistas debruçados sobre uma prancheta tentando desenvolver uma solução eficiente no menor intervalo de tempo possível.
Profissões desapareceram, empregos encolheram e nenhum trabalhador pode ter certeza de que a função que desempenha hoje existirá da mesma forma daqui a 10 anos. Seria um consolo imaginar que os humanos estão se livrando das tarefas mecânicas para se dedicar a trabalhos que enchem de propósito e sentido suas vidas. Talvez um dia. Por enquanto, o que existe é medo, insegurança e raiva - matéria-prima que políticos populistas, infelizmente, ainda sabem manipular muito melhor do que robôs.
CLÁUDIA LAITANO
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