CLÁUDIA LAITANO
Espiral do tempo
Meu mundo é hoje, diz uma linda canção
de Paulinho da Viola. Outro artista da excepcional safra de 1942 (Tim
Maia, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Paul McCartney, Jimi Hendrix...),
Caetano Veloso disse algo parecido ao completar 77 anos, no início de
agosto: "Eu sigo moleque. Eu sei que sou velho, mas estou curioso para
experimentar a velhice. A verdade é que, se não houver muitas
desvantagens, nunca se é velho: a pessoa que você é ainda é o que você
tem sido".
Do nascimento até a morte, parece que somos sempre
novos demais ou velhos demais para alguma coisa. Sem perceber, vamos nos
movendo lentamente entre o que já está ao nosso alcance e o que ainda
não está (ou não está mais). Caetano está certo: por dentro, nunca
ficamos mais velhos do que sempre fomos, mas aos poucos percebemos que o
que esperam de nós vai se tornando uma identidade emitida sem a nossa
autorização.
Olhamos a senhorinha que caminha com dificuldade na rua
carregando uma sacola de compras e lamentamos a melancolia lenta da
velhice, enquanto ela, distraída, talvez esteja fazendo planos para as
próximas férias ou pensando em voltar a estudar. Observamos o jovem
adulto com certa nostalgia de uma felicidade despreocupada sem lembrar
que ninguém tem a distância ou a tranquilidade necessárias para
sentir-se privilegiado no placar cronológico em qualquer época da vida.
Cada geração e, no limite, cada indivíduo vai
explorando seus limites, empurrando para mais longe ou mais perto a
borda das possibilidades em aberto a cada momento. Quem decide que é
tarde demais para mudar de profissão, começar (ou voltar) a estudar,
sair de um casamento infeliz, aprender um novo idioma, dar a volta ao
mundo, se apaixonar, dançar no sábado à noite, subir ao palco? A melhor
idade, essa expressão que a maioria das pessoas com mais de 60 anos
considera cínica e quase ofensiva, se existe, é aquela em que estamos
presentes no presente. Sem pressa demais para chegar ao futuro ou apego
excessivo ao que ficou no passado. Nosso mundo é hoje.
CLÁUDIA LAITANO
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