sábado, 10 de agosto de 2019




10 DE AGOSTO DE 2019
LYA LUFT

Os padrastos

Estamos habituados a celebrar Dia das Mães, dos Pais, e várias outras datas que eu, contrariando muita gente, gosto de celebrar.


Pois assim ao menos nesses dias, quem sabe, mais gente recebe flor, abraço, recado no whats, e-mail, telefonema, qualquer coisa. Presença, seja como for, virtual ou concreta (sempre a melhor de todas). Nesses dias a gente pode sair da banalidade torturante do dia a dia e reavivar alguma emoção boa, porque das ruins estamos já cansados. Então lembrei dos padrastos: para madrastas queridas, já se usa, meio na brincadeira, o termo “boadrasta”.

Pois eu hoje me solidarizo com os padrastos que vivem com mulheres que já tinham filhos.


Ser pai pode ser mais complicado do que ser mãe, porque ainda, apesar de todas as psicologias e psicologismos, muitas vezes deixamos o pai de fora. A mãe abre a porta para a união filhos e pai, a mãe deixa o pai entrar no mundo da criança, e se isso não for espontâneo, leve, feliz, amoroso, podem permanecer limites melancólicos pela vida afora.

Mães realmente maternais, que não querem ser exclusivas na vida dos filhos, mas generosamente querem que eles participem de um mundo além do seu colo, em geral constroem famílias mais felizes, ou menos infelizes. (Sinto muito, a responsabilidade da mãe é grande.)


O pai natural às vezes se porta como um padrasto de livro de história (em geral, lá só temos madrastas e bruxas más), sendo frio, distante, exigente demais ou omisso, cruel ou indiferente, crítico ou negligente demais. Mas há padrastos realmente paternais, bondosos, amigos, camaradas, que exercem a necessária autoridade amorosa (quem ama cuida), mas não procura ocupar o lugar do pai, se é que este existe, se é que este comparece afetivamente.

Existem adolescentes e crianças que não permitem que nem madrasta nem padrasto entrem na família: com arrogância, malcriação, às vezes agressividade, os mantêm “de fora”. Não invejo a posição dessas pessoas, que podem chegar muito bemintencionadas, coração aberto, mente preparada.


Sei de histórias longas, penosas, constrangedoras, em que aquele que desejaria participar, ser amigo, estar presente, forçadamente fica alijado, ainda que no emocional, enfrentando caras feias, comportamentos péssimos, e mães aflitas que não sabem como agir – e quereriam agradar a todos. 


Então hoje, de alguma forma, eu celebro aqui o dia dos padrastos, que não consta nos calendários, pois deveria ser incluído nos dias de pai, desde que assim se apresentem e comportem, e sejam bem-vindos.

Se a essência do mundo e da humanidade é a família, qualquer membro hostilizado ou alijado é uma ferida que pode e deve ser tratada, desde que haja maturidade, compreensão, coração. 

Sim: o amor é difícil.
LYA LUFT

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