08 DE JULHO DE 2019
+ ECONOMIA - ENTREVISTA | PAULO GALA, Economista
"O RISCO É DE SERMOS NOCAUTEADOS PELA INDÚSTRIA EUROPEIA"
Diretor-geral da Fator Administração de Recursos, Paulo Gala diz que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia deve beneficiar a agropecuária brasileira, mas teme prejuízos à indústria. Em entrevista à coluna, Gala também pontua os desafios para a reação da economia.
Qual o diagnóstico da economia brasileira neste momento?
O país tem 99% de chances de ter nova recessão. O resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre sairá em agosto. Com os números de setores que já foram divulgados de abril a junho, temos quase certeza de que estamos em recessão. O PIB caiu um pouco, 0,2%, no primeiro trimestre. No segundo, deve aparecer outra queda. Não é uma recessão no sentido de o PIB despencar. Seria uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos de queda na economia).
Aprovada em comissão, a reforma da Previdência segue ao plenário da Câmara dos Deputados. Qual sua avaliação sobre o projeto?
A reforma que está passando é a possível. São muitos interesses em jogo. Está saindo até um pouco maior do que se imaginava. A questão da reforma tributária é mais delicada. Uma coisa é fazer a simplificação dos impostos que já existem. Isso deve passar no Congresso, tem chance de andar. Outra coisa é rediscutir a repartição do sistema tributário. É bem mais difícil. Envolve interesses muito pesados de governadores e municípios.
Após 20 anos, Mercosul e União Europeia fecharam acordo comercial. Quais os efeitos para o Brasil?
Precisamos ter cuidado nessa questão. Pode trazer ganhos no curto prazo, mas no longo pode atrapalhar bastante. O setor industrial já está muito combalido. Em termos de corrida tecnológica, estamos muito atrás de empresas europeias. Quando formos expostos à competição mais agressiva, nosso setor industrial tende a sofrer ainda mais. Por isso digo que é um peso-pena entrando no ringue para lutar contra um peso pesado. Na agricultura, acho o acordo ótimo, porque já somos pesos pesados. No setor industrial, a situação é muito assimétrica. Ninguém sabe o que vai acontecer de fato, mas o grande risco é de sermos nocauteados pela indústria europeia.
A retomada da economia brasileira depende de quais medidas?
Temos dois problemas de difícil resolução. O primeiro é o nível ainda muito elevado de endividamento de famílias e empresas. Isso pressiona as decisões de consumo e investimentos. A única solução é ter mais rodadas de corte no juro básico. O Banco Central terá de aliviar mais. O segundo é o governo tentar mais espaço com o Congresso para fazer investimento público, especialmente em infraestrutura. Vejo essa parte como mais difícil. O governo está muito focado na reforma da Previdência, que é fundamental e deve passar, mas precisaria centrar esforços em alguma mudança para poder fazer investimento. Ao mesmo tempo em que empresários estão endividados, suas lojas e fábricas estão vazias. Eles não sairão investindo só por causa da aprovação da reforma da Previdência.
LEONARDO VIECELI
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