27 DE JULHO DE 2019
OPINIÃO DA RBS
UM ERRO AMAZÔNICO
Ainda há tempo para Jair Bolsonaro entender que, hoje, nada prejudica mais a imagem do Brasil no Exterior do que a questão ambiental. A controvérsia alimentada pelo presidente em relação aos dados de desmatamento da Amazônia, com ataques à credibilidade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só agrava a percepção. Para o mundo, passa a impressão de que o mandatário brasileiro está mais preocupado em esconder a estatística, e não com o problema da destruição da floresta em si.
Talvez por demonstrar certa aversão a dados científicos e preferir dar mais crédito a informações duvidosas e teorias conspiratórias que absorve na bolha ideológica de suas redes sociais, Bolsonaro emite sinais de não ter alcançado a compreensão exata de quanto o país pode ser prejudicado caso teime na postura de desdenhar da proteção do ambiente. É uma ameaça, por exemplo, ao acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia. E quem tem mais a perder, no fim das contas, é o próprio agronegócio. Sim, é o setor em que o Brasil é mais competitivo, mas o consumidor internacional, especialmente dos países desenvolvidos, está cada vez mais atento à forma como são produzidos os alimentos que leva à mesa. As entidades mais modernas ligadas à indústria agropecuária têm esta consciência e agem para frear os arroubos inconsequentes do governo.
Pessoalmente, o presidente já não goza de grande prestígio no Exterior por conta de suas declarações homofóbicas e misóginas e, ao demonstrar que considera o ambiente um entrave a atividades econômicas, está entrando no rol dos vilões internacionais, sendo apontado como uma espécie de incentivador da exploração desregrada e a qualquer custo da Amazônia pela agricultura e a pecuária. Desprezar a importância de salvaguardas a povos indígenas, minimizar a relevância de áreas de proteção ambiental e enfraquecer órgãos como o Ibama - espécie de salvo-conduto tácito a agressores da natureza - apenas fortalecem esta visão.
Não adianta colocar a culpa da imagem arranhada do país na imprensa internacional ou na suposta inação de embaixadores. Só há uma forma de começar a reverter o péssimo retrato do Brasil lá fora: mudar drasticamente o discurso, evitar rompantes e dar uma guinada na política ambiental, hoje vista como, no mínimo, leniente. Pouco importa, agora, se as nações ricas do Hemisfério Norte destruíram as suas florestas no passado. Preservar as matas, mantendo o delicado equilíbrio do ecossistema amazônico e colaborando para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, é uma tarefa que só trará benefícios ao Brasil. E esta também é a responsabilidade do país com as próximas gerações de todo o mundo.
OPINIÃO DA RBS
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