quinta-feira, 11 de julho de 2019


11 DE JULHO DE 2019
ARTIGOS

TRABALHO INVISÍVEL


A Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região organizou um projeto interessante. Quinze magistrados vivenciaram, por um dia, a realidade do trabalho invisível. Ou seja, viveram a realidade daquelas pessoas cujo trabalho é fundamental para todos nós mas que não recebem a devida valorização. Assim, fomos porteiros, cobradores de ônibus, empacotadores de supermercado, auxiliares de serviços gerais e repositores de hortifrutigranjeiros. Está no prelo um livro relatando essas experiên- cias. E um documentário, possivelmente, também existirá.

Eu trabalhei como porteiro. Começo pela minha conclusão. Não interessa se você é jornalista, empresário ou juiz: quando você coloca o uniforme de porteiro, as pessoas não lhe dão bom-dia voluntariamente. Ainda que seu trabalho seja fundamental para orientar sobre os encaminhamentos dentro da empresa (qual setor procurar, qual pessoa faz o atendimento de que o cliente precisa), enfim, ainda que você seja o rosto da empresa, nenhum bom-dia.

Para encarar isso, a estratégia é simples: você (o porteiro) dá o bom-dia primeiro. Desta forma, as pessoas se constrangem e lhe concedem o direito de receber delas o mínimo que a educação recomenda. Algumas, nem isso. Há os que o cumprimentam sem precisar de provocação? Sim. A esses todos, meus sinceros parabéns e reconhecimento por contribuírem para um mundo melhor.

Mas a experiência não foi negativa. Ao contrário. Bibliotecas inteiras publicadas para investigar como atender melhor ao público não são comparáveis a um dia de trabalho com seu Dorli, Marlon, Leonel e Eugênio. Quatro trabalhadores que, mesmo sem o conhecimento das pessoas, fazem a vida delas mais fácil naquele ambiente. Isso inclui desde abrir a porta do elevador (que não "magicamente" se abre, pois é a portaria que faz isso), ao recebimento das encomendas que chegam, passa pela guarda de objetos para que alguém possa ir ao banco e, até mesmo, ao extremo cuidado com a segurança daqueles que esperam pelos motoristas de aplicativos.

Enfim, ser invisível por um dia traz uma série de lições. Não apenas porque os processos em julgamento na Justiça do Trabalho versem, em sua maioria, justamente sobre tais situações. Mas porque, em termos de humanidade, foi muito impactante observar o orgulho e a solidariedade daqueles que se dispõem a ajudar o próximo como profissão de vida; ainda que não tenham o devido reconhecimento social. Uma lição de vida muito bem aprendida.

Vice-presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região 

TIAGO MALLMANN SULZBACH

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