quarta-feira, 10 de julho de 2019



09 DE JULHO DE 2019
DAVID COIMBRA

SAIBA TODA A VERDADE SOBRE A VIDA DE RICO

Passei alguns dias em Cape Cod. A famosa arquiteta e instagrammer Cris Camps diria que esse lugar é "a cara da riqueza", e é mesmo. Lá estão algumas das praias preferidas dos magnatas americanos. A que eles mais apreciam, entre todas, certamente é a ilha de Martha's Vineyard, onde a família Obama desfruta seus veraneios e a família Kennedy plantou uma mansão. Aliás, essa casa dos Kennedy está à venda. Se você tiver US$ 65 milhões sobrando, vale a pena o investimento - a ilha conta com boa infraestrutura e a vizinhança é amigável.

Mas talvez Martha's Vineyard seja conhecida menos pelos clãs de ex-presidentes que por lá se repoltreiam e mais porque Steven Spielberg a usou como locação do blockbuster Tubarão, nos anos 1970. Ainda hoje você pode encontrar moradores que serviram de figurantes no filme.

Há outra ilha de Cape Cod que serviu de cenário para uma história de ficção. É Nantucket, onde estava fundeado o navio Pequod, do capitão Ahab. Você sabe que estou falando de um dos maiores clássicos da literatura de todos os tempos, Moby Dick, de Herman Melville. Foi um dos melhores livros que já li. Sério. Curiosamente, depois que Melville o publicou, seus leitores o abandonaram e nunca mais voltaram.

Quando escrevo "seus leitores", é que ele, de fato, os tinha. Já havia lançado outros livros, todos com a mesma temática da vida no mar, e feito certo sucesso. Mas poucos apreciaram Moby Dick, e Melville morreu na obscuridade, tanto que os jornais da época erraram a grafia de seu nome ao publicar seu obituário. Por ironia, a obra que o arrastou para o esquecimento em vida ergueu-o para a fama eterna após a morte. Ao ser redescoberto, no século 20, o romance sobre a grande baleia branca o consagrou para a posteridade.

Vejam como também é rico em histórias esse cabo rico em dólares. Mas, no momento, estou mais interessado nas histórias contadas pelos dólares. É que há 20 anos tento emplacar uma pauta em Zero Hora e, por algum motivo desconhecido, não consigo. É o tipo de matéria que nós, jornalistas, chamamos de "confesso que vivi": o repórter vai contar uma história de hospício e se interna como doente mental em um sanatório, o repórter vai contar uma história de tráfico e vira traficante. 

Trata-se de um sacrifício em nome da profissão. Pois estou disposto a dar a minha quota de sangue e suor em uma reportagem que se intitulará "Vida de rico". Relatarei, em minudências, como é o dia a dia de um homem realmente abastado. "Disfarçado" de bilionário, viajarei de primeira classe, jantarei em restaurantes três estrelas do Guia Michelin, frequentarei festas exclusivíssimas e passarei temporadas em mansões de Cape Cod. Depois, contarei tudo. Tudo!

Acho que os leitores beberão sofregamente de meus textos a respeito desse mundo pouco conhecido. Vou apresentar hoje mesmo a pauta para os chefes, o Marcelo Rech, a Marta Gleich, a Andiara Petterle, todos eles. Torçam por mim, em nome do bom jornalismo.

Enquanto minha pauta não é aprovada, quero me ater ao que vi em outro vilarejo de Cape Cod, chamado Falmouth. Tem a ver com o Brasil de hoje. Mas o espaço acabou. Espere até amanhã.

DAVID COIMBRA

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