sábado, 3 de julho de 2010



03 de julho de 2010 | N° 16385
L. F. VERISSIMO


Precisava o segundo tempo?

Velho truque jornalístico. Para ganhar tempo, escrever duas crônicas antes do jogo: por que ganhamos e por que perdemos.

Quando os dois times saíram para o intervalo ontem, comecei a redigir mentalmente a minha “por que ganhamos”. Ia começar inventando um incidente nos bastidores, Robben chegando no vestiário holandês reclamando da marcação do Michel Bastos, que não o largava um minuto – e o Michel Bastos chegando atrás dele.

Eu não tinha a menor dúvida de que venceríamos o jogo. Infelizmente, depois do intervalo houve o segundo tempo, que destruiu as pretensões do Brasil e a minha crônica.

Uma das coisas que mudaram no segundo tempo foi que o Michel Bastos, constrangido por um cartão amarelo, teve de descolar do melhor jogador holandês para não ser expulso. Outra foi que não apareceu ninguém para ajudá-lo a conter o lado direito do ataque holandês, por onde os laranjas chegavam com mais perigo.

Felipe Melo, a aposta do Dunga que menos deu certo, não só fez o gol de empate da Holanda como faltou constantemente ao trabalho, que era ajudar o Michel Bastos naquele lado. E ainda foi expulso e deixou seu time com 10. Quer dizer, nem o Felipe Melo nem nós precisávamos desse segundo tempo.

Um dos paradoxos do futebol moderno é que, quanto mais o conjunto supera o indivíduo, mais ele depende da jogada individual. Com defesas compactas marcando em cima e rebatendo tudo, cresce a importância do driblador, do cara que vai para cima do adversário e abre defesas com seu atrevimento e brilho pessoal.

Nesta Seleção, se esperava isso do Robinho, que jogou bem, fez gols e passes para gols, mas raras vezes foi o indivíduo diferente de que o conjunto precisava. Quase sempre suas tentativas de ser o Robinho conhecido, o que ia para cima, falharam.

Contei. Só três dos 23 jogadores da nossa Seleção jogam no Brasil, contra nove da seleção holandesa que jogam na Holanda. Era de se esperar que o Brasil levasse vantagem naquelas coisas que uma experiência internacional ensinaria, como manter a cabeça fria nas grandes decisões.

Não foi o que se viu ontem. O Brasil não teve onde buscar nem a calma nem a sabedoria para mudar o resultado. Perdeu provincianamente.

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