quinta-feira, 1 de julho de 2010



01 de julho de 2010 | N° 16383
CLAUDIA TAJES | CLAUDIA TAJES (INTERINA)


E Moacyr Scliar acordou feliz

Domingo, dez e tanto da manhã. Aos poucos, a sirene de um caminhão de bombeiros chega cada vez mais perto. Em casos assim, é quase por instinto que a gente larga tudo e vai olhar para a rua.

Olhei. Em lugar de tragédia, só alegria.

No alto do caminhão, o time do Esporte Clube Cruzeiro de Porto Alegre fazia a festa pela volta à primeira divisão do Gauchão, 32 anos depois de cair. Trinta e dois anos amargando a Segundona (e, quem sabe, outras divisões que desconheço), com tudo o que isso significa. Eu, que sou gremista, comemorei da minha janela.

Atrás do caminhão, uma carreata pequena, mas animada, deixava para trás 32 anos de campos esburacados, de pouco dinheiro para contratar, de quase nada de recursos para investir. Dizem que a diferença entre as divisões do futebol gaúcho é que, na primeira, as mães dos jogadores não invadem o gramado para bater na equipe adversária. Se isso é verdade, as mães dos atletas do Cruzeiro já podem, enfim, aposentar os punhos.

Vendo a festa, torci para que a comitiva passasse pela frente da casa do Moacyr Scliar, cruzeirista orgulhoso desde sempre. Mesmo com seu time há 32 anos fora do principal campeonato do Estado, nunca se viu nosso Imortal admitir sequer uma leve simpatia por outro clube. Ainda que, há de se concordar, torcer pelo Imortal da Azenha fosse mais adequado ao perfil do ilustre escritor.

Enquanto o caminhão desfilava, as milionárias seleções da Alemanha e da Inglaterra se enfrentavam pela Copa do Mundo. Jogo corrido e disputado, com a Alemanha recebendo a ajuda do árbitro para, se não definir o resultado, ao menos tumultuar a partida.

Fosse na Segundona, a mãe do rapaz que teve o gol injustamente anulado certamente entraria em campo para exemplar o juiz. Mais tarde, comparando as manifestações dos alemães pela classificação com os festejos dos cruzeiristas pelo seu feito, fiquei com a impressão de que o pessoal daqui mandou ver com muito mais entusiasmo.

E assim o mundo vai girando, às vezes descontrolado como a Jabulani em dia de vento. E enquanto os ricos franceses, ingleses, americanos e italianos voltaram para casa com cara de tacho, o Cruzeiro de Porto Alegre volta à primeira divisão com a cabeça erguida.

E que continue subindo. Mas só até a segunda colocação da tabela.

Claudia Tajes substitui Luis Fernando Verissimo, que até 12 de julho tem sua crônica publicada no Jornal da Copa

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