quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009


CLÓVIS ROSSI

A rua e as estatísticas

SÃO PAULO - Não creio que ninguém com ao menos um neurônio se tenha surpreendido com o fato de que a brutal brecada na atividade industrial -sinal de que a economia foi muito mal no último trimestre- não provocou a menor mexida na popularidade do presidente Lula. Ou melhor, provocou, sim: para cima, não para baixo.

Fácil de entender: Lula não tem a mais leve culpa pela crise. Nem por ação (não foram suas políticas que a provocaram). Nem por inação (ele está fazendo o que o resto do mundo está fazendo).

Até aí, é óbvio. Menos óbvio, e apoiado apenas em sensações pessoais e em estatísticas que talvez não sejam comparáveis, é o fato de que parece estar havendo um descolamento entre a temperatura das estatísticas, que atingem o ponto de congelamento, e a temperatura da rua ou do público.

Posto de outra forma: não se desfez o tal "feel good factor" (fator sentir-se bem) que se instalou na pátria há algum tempo -e jogou para cima a popularidade de Lula e, de carona, de inúmeros outros governantes. Primeiro porque o desemprego não acompanhou até agora a queda no nível de atividade.

Veja-se a indústria: desabou 12,4% em dezembro sobre novembro, mas, no mesmo período, o número de pessoas empregadas recuou bem menos (0,5%).

Veja-se agora o caso dos automóveis: houve a brecada, a indústria reagiu com uma desaceleração da produção e, agora, já há fila para comprar carros.

O pessimista dirá que essa situação se deve apenas ao fato de o governo ter reduzido o IPI, o que ajuda nas vendas.

OK. Mas, se o medo ao desemprego fosse proporcional ao tamanho da queda na atividade, pouca gente se animaria a comprar carro, fosse qual fosse o preço. Se tivesse mais espaço, citaria dados da Europa que também mostram que essa crise não é só, mas também muito, muito, esquisita.

crossi@uol.com.br

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