sábado, 7 de fevereiro de 2009



08 de fevereiro de 2009
N° 15873 - MOACYR SCLIAR


A banana como destino

Bananas is My Business é o título de um documentário de 1994 dirigido por Helena Solberg e que tem como personagem central Carmen Miranda. O título é mais que apropriado.

Nas suas apresentações, e em fotos, a cantora aparecia vestida de baiana, tendo na cabeça uma complicada armação de frutas, na qual a banana nunca faltava. Num dos muitos filmes que estreou, nós a vemos cantando e dançando num cenário que representa uma gigantesca pirâmide invertida de bananas no vértice do qual Carmen Miranda acaba se posicionando.

Ou seja: banana era mesmo com ela, e a expressão que dá título ao documentário era por Carmen usada com frequência. Mais que isso, ela personificava a Chiquita Banana de uma composição que celebrava as virtudes das bananas: You can put them in a salad/You can put them in a pie/Any way you want to eat them/It’s impossible to beat them. (“Você pode pô-las em uma salada/Você pode pô-las em uma torta/De qualquer jeito você quer comê-las/Elas são imbatíveis”.

Essa associação não é casual. A ascensão de Carmen coincidiu com aquilo que podemos chamar de “era da banana” na América Central e nos Estados Unidos. Estamos falando de uma planta tropical que, desde a chegada dos colonizadores, foi muito cultivada na América Latina.

A banana é uma espécie de “fast-food” natural; mediante técnicas agrícolas pode ser padronizada da mesma forma que o hambuguer. As bananas tornam-se exatamente iguais, com o mesmo gosto, e são mais baratas que outras frutas, como mostra a expressão “a preço de banana”. Isso inevitavelmente interessou aos americanos. E já na passagem para o século 20 surge a United Fruit Company.

Estamos falando de uma das mais poderosas multinacionais de todos os tempos. A UFC controlava vastas plantações de frutas na América Central e no Caribe. Mais que isso, e com a ajuda governo dos EUA, interferia na política dos países, ajudando na derrubada de vários governos e colaborando para a criação daquilo que passou a ser conhecido como “república das bananas”.

Foi o que aconteceu em 1954, na Guatemala: o presidente Jacobo Arbenz, que tentava introduzir uma reforma agrária relativamente moderada, foi vítima de um golpe articulado por Allen Dulles, diretor da CIA, que não por acaso era advogado da United Fruit.

A United Fruit estava interessada em promover a banana. Carmen Miranda foi então transformada em “Chiquita Banana”. A imagem era inteiramente artificial, mais “cucaracha” que brasileira, o que atraiu a hostilidade de muita gente e explica a frieza com que foi recebida no Cassino da Urca, numa de suas vindas ao Brasil.

No documentário mencionado, Carmen é retratada como uma vítima de Hollywood, condenada a viver sempre o mesmo papel estereotipado. Isso, e mais os problemas pessoais (casou com um produtor de cinema tirânico e explorador) levou a sérios problemas. Deprimida, foi tratada até com eletrochoques e por fim veio a morrer de um ataque cardíaco.

“Banana, menina/Tem vitamina/Banana engorda e faz crescer”, dizia uma marchinha carnavalesca da época. Faz crescer? Ao menos no sentido emocional, não é sempre que isso acontece.

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