sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009



06 de fevereiro de 2009
N° 15871 - DAVID COIMBRA


Lula, Yeda e Fogaça

Quando o Maracanã desabou em uma vaia de cimento e aço sobre Lula, na abertura do Pan em 2007, eu estava lá. Escrevi um pequeno texto a respeito. Contei que circundara o estádio a pé e não vira negros nem pobres entre os 80 mil espectadores que tinham pago, em média, R$ 180 pelo ingresso.

Foi uma vaia da elite branca e bem alimentada, a elite que engorda bebendo leite condensado, escrevi. No dia seguinte, mais de 300 imeils cintilavam na minha caixa postal, a imensa maioria deles me xingando.

Algumas pessoas chegaram a dizer que rezavam para que não voltasse do Rio, para que algum traficante me executasse no morro ou me sequestrasse e desse sumiço na minha miserável carcaça lulista.

Naquela noite, depois de ler essa correspondência latejante de sentimentos... intensos, deitei-me no escuro do quarto do hotel, acomodei a cabeça no travesseiro e fiquei pensando: neste mesmo momento, centenas, quiçá milhares de pessoas estão elevando suas preces ao Senhor para reivindicar o meu desaparecimento do plano dos vivos.

Será que o Criador, na Sua infinita sabedoria, não se deixará levar pela quantidade de pedidos? Porque Marx já dizia: “Quantidade gera qualidade”. Então, será que, devido à grande demanda, Ele não terminará por decidir acatá-los?

Adormeci com essa dúvida inquietante. O Pan acabou e, como se lê, continuo respirando. Hoje Lula tem 84% de aprovação pessoal, é provável que muitos dos que há ano e meio o apuparam agora o aplaudissem. E o degas aqui, que por causa do Lula correu sérios riscos de ficar malvisto pelo Senhor em Pessoa, ainda está esperando que ele (não Ele) aproveite melhor a sua popularidade.

Torço para que Lula seja mais do que um presidente desenvolvimentista, como foram JK e os presidentes militares. Torço para que tenha um projeto para o país. Para que a Educação em seu governo não seja voltada apenas, como tem sido, para a universidade.

Para que Lula entenda que a revolução começa pelas crianças, pelo básico e pelo fundamental. Ainda dá tempo. Com o patrimônio que Lula acumulou de 2007 para cá, ainda dá.

O curioso do governo Lula é sua semelhança com os governos Fogaça e Yeda. O maior orgulho dos três são suas façanhas financeiras. Seus heróis têm a mesma origem: são os economistas, os homens dos balancetes e das planilhas de contas, Meirelles, Mantega, Tatsch, Aod.

Há outra característica que marca os três governos: o ponto onde se localiza a determinação de cada um. Nos governos estadual e federal, está nas suas mulheres. Em Dilma Rousseff, que nem com plástica atenua os traços da sua severidade. E na própria Yeda, que de tão decidida esquece de fazer política.

Já no governo municipal, a determinação está atrás de um biombo de democratismo. Um grupelho faz pressão e a construção do Teatro da Ospa é adiada em meses. Agora, ante o impasse do Pontal do Guaíba, a prefeitura ameaça atirar a incumbência da decisão nos braços do eleitor.

Uma questão que deveria ser resolvida pela soma de deliberações técnicas com o bom senso, e nossos governantes querem entregá-la à sempre passional especulação popular.

Por quê? Por duas razões: pela velha demagogia e pelo medo de assumir responsabilidades. Talvez esteja faltando uma mulher que fale grosso na prefeitura de Porto Alegre.

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