terça-feira, 8 de janeiro de 2008



08 de janeiro de 2008
N° 15472 - Paulo Sant'ana


Além do limite

A o meu redor, em toda parte que estou ou vou, todas as pessoas se traçam limites. E vão até aqueles limites, não os transpõem.

Traçam limites na bebida, no cigarro, no jogo, na diversão, nos negócios, em tudo as pessoas se regram para não ultrapassarem em sua conduta as promessas que fazem a si mesmas.

Quero dizer que sou igual a essas pessoas todas que se traçam limites, creio que a maioria das pessoas é assim.

Eu também me traço limites. Só que não cumpro nenhum limite que me traço. Transponho todos os limites que marco para mim. Ultrapasso todos os meus limites, fumo mais do que deveria, como mais doces do que deveria, amo mais do que deveria amar, entrego-me como refém dos meus amores e dos meus amigos mais do que deveria me entregar, eu sou um desbragado.

Supero, vou muito além dos meus limites nos cigarros, nos doces, em todos os prazeres e em todos os vícios, nos meus sofrimentos, nas minha aflições, nas minhas preocupações.

Acho que por me recusar a ser limitado.

Atualmente, passo por dificuldades financeiras, que pretendo serem sazonais. Ganho muito bem, mais do que mereço, tenho diversas fontes de renda, mas me apertei. Talvez porque tudo que ganho partilho com outros.

Quem não se aperta neste Brasil infame em que a cesta básica subiu em Porto Alegre no ano de 2007 cerca de 18%? E o governo e seus áulicos dizendo que está tudo bem. Quem não se aperta?

Pois bem, eu me apertei. Estou fazendo das tripas coração para me safar dos meus compromissos.

Como já disse, ganho muito bem. Mas é que nos últimos meses as minhas despesas se tornaram maiores do que os meus ganhos.

Cedo, bem cedinho, com certeza, torço eu, creio eu, estarei me desvencilhando dessa dificuldade financeira.

Enquanto não me desvencilhava, ontem eu estava me barbeando, quando bateram duas vezes na minha porta.

Gritei, perguntando quem era. A pessoa respondeu, do lado de fora da minha casa, gritando: "Uma esmola! Uma moeda!".

E eu, ainda gritando: "Pode botar por baixo da porta".

Parei meu carro na sinaleira da Ipiranga com Erico Verissimo. Abordou-me um rapaz alto, forte, enorme, cheio de saúde.

Pediu-me uma moeda. Eu disse a ele que não era possível dar-lhe a moeda. Ele me perguntou por que não era possível.

Eu lhe disse que passava por 210 sinaleiras por dia, se fosse dar uma moeda para todos que me pedissem nas sinaleiras, iria gastar R$ 210 por dia, por mês seria uma despesa de R$ 6,3 mil.

"Quer dizer então que o senhor nunca dá moeda na sinaleira?", indagou-me o rapagão.

Eu respondi que dou, mas só R$ 2 por dia, duas moedas, uma numa sinaleira, outra na outra.

Ele ainda teve tempo de me dizer: "Então vamos fazer o seguinte: o senhor passa aqui todos os dias. Reserve e dê essas moedas só para mim, sempre, tio?".

Esses dias recebeu da Câmara de Vereadores o título honorário de Cidadão de Porto Alegre o bacharel Cláudio Rihan, meu amigo.

Não pude ir lá, eu estava doente. Mas mando-lhe daqui o meu abraço caloroso pela comenda merecidamente recebida.

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