Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
08 de janeiro de 2008
N° 15472 - Liberato Vieira da Cunha
Luar de verão
Convivo cordialmente com uma Porto Alegre divorciada dos calendários. Por toda esta área do Centro, a paisagem mudou. Quadras inteiras se transformaram em paredões de aço, cimento e vidro, engolindo meias-águas e sobrados.
Há, contudo, um trecho que sobreviveu a andaimes e elevadores. Fica bem aqui perto, em trechos da Demétrio Ribeiro, da Fernando Machado, da General Auto e adjacências.
Supondo que você saiba o que é a palavra adjacência, não deve desconhecer o que venha a ser relíquia. Pois é o que são essas casas das redondezas.
Enxertadas aqui e ali por uns raros edifícios, mantêm-se como eram há 80 ou 90 anos, para ficar apenas nas mais jovens.
Não compõem um bloco harmônico. Um quarteirão pode começar com umas moradas de porta e janela e converter-se sem aviso numa formação de vivendas de três andares.
O que resta, apesar de tudo, é um equilíbrio de modos e de idades absolutamente ausente no sobrante da Capital, descontados os modernos condomínios, mas não é disso que estou falando.
Ao que a paisagem denuncia, houve nas duas ou três décadas iniciais do século passado uma espécie de tranqüilo boom imobiliário.
Senhores de vastos terrenos, nesta zona que não é bem Centro, nem Cidade Baixa, ou preencheram espaços baldios, ou converteram ranchos em habitações dignas do nome, ou, ainda, ergueram, de pisos térreos, solares com o gosto da altitude.
Ainda ontem passei por ali.
Olhei menos a arquitetura em pedra do que essa cimentada em vida.
Naquela esquina deve ter vivido o dono de um armazém de secos e molhados. Chamava-se talvez Manuel e tinha orgulho de seus bigodes e de uma ida noite de paixão com uma Inês, no outro lado do Atlântico.
Num quarto daquela pensão morou um estudante de Farmácia, que mais de fórmulas cuidava do coração de uma vizinha, a qual ele tratava com a infinita aplicação dos enamorados pelas ciências do amor.
E no sótão daquele torreão sobrevivia uma moça tão bela quanto abandonada.
De dia lavava escadas e assoalhos. Mas à noite, por uma mínima janela, flertava, encantada, com o luar de verão.
Uma ótima terça-feira, especialmente a você, mesmo com temperatura acima de 30 graus e com sol forte neste Rio Grande do Sul.
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