sábado, 26 de novembro de 2022


26 DE NOVEMBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

RUÍDOS E INDEFINIÇÕES

Começam a preocupar os ruídos e a articulação deficiente do governo eleito, o que tem levado a adiamentos na formulação do teor da chamada PEC da Transição. Era para proposta ser conhecida até a última quarta-feira, mas agora a previsão é a próxima terça-feira. Há claros problemas de articulação com o Congresso, ao mesmo tempo que transparecem divisões internas entre algumas das lideranças do PT mais próximas ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

As indefinições são sobre por quanto tempo o novo Bolsa Família poderá ficar excluído do teto de gastos e sobre o tamanho da licença de desembolsos que o novo governo terá em 2023. Ao que parece, o prazo não será indeterminado, como Lula gostaria, tampouco o extrateto será de R$ 200 bilhões. As hesitações atrasam definições importantes e alimentam o nervosismo no mercado financeiro, como o movimento de alta observado nos juros futuros nos últimos dias devido às interpretações de que o Banco Central poderá ter de continuar a elevar a Taxa Selic, o que seria péssimo para a economia, para os investimentos produtivos, para o crédito e para os endividados.

Um sinal de falta de alinhamento interno foi a troca de cobranças entre o senador Jaques Wagner (PT-BA), articulador político do governo eleito, e a presidente do PT, Gleisi Hoffman. O parlamentar disse que a falta de indicação do novo ministro da Fazenda atrapalha as negociações no Congresso e foi rebatido pela dirigente. Para Gleisi, é a falta de articulação adequada no Senado o principal entrave para a PEC.

Em meio à indefinição e diante das resistências do parlamento, voltou a ser cogitada a possibilidade de uma medida provisória liberando crédito extraordinário para assegurar o Bolsa Família no valor de R$ 600. Resta saber se essa hipótese é de fato um plano B, um balão de ensaio ou indício de inexistência de clareza sobre o melhor caminho para cumprir uma das principais promessas de campanha de Lula.

Uma definição seria facilitada, sem dúvida, se o Congresso e o mercado já conhecessem o futuro ministro da Fazenda e ao menos parte do primeiro escalão da equipe econômica. Um time que mesclasse credibilidade com boa capacidade de articulação política facilitaria a costura de um acordo com os parlamentares. 

Nomes que gerassem confiança e acenassem na direção da manutenção da austeridade, sem abrir mão dos compromissos sociais, por certo fariam com que deputados e senadores fossem um pouco mais condescendentes com as demandas do futuro governo. Sem esquecer que, junto a isso, deveria ser reforçado o comprometimento com a apresentação de uma proposta para ser a nova âncora fiscal do país devido à intenção repetida de Lula de substituir o teto de gastos.

Há 20 anos, durante a transição para o primeiro governo Lula, a esta altura do calendário, o então futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci, estava confirmado no cargo. Dava as cartas e centralizava a comunicação sobre política econômica, evitando a vocalização de visões distintas por diferentes integrantes da futura gestão e acalmando o mercado. Outras pastas importantes, como a Casa Civil, também já estavam definidas. 

Mesmo sem ser o preferido do mercado, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) desponta como favorito para a Fazenda. Uma possibilidade de dobradinha com o economista Pérsio Arida no Planejamento animou os investidores na quinta-feira, mas na sexta-feira Haddad esteve em um encontro com banqueiros e não empolgou os ouvintes. Quem bate o martelo, de qualquer forma, permanece silente. Em tempos de Copa do Mundo, já passou da hora de Lula começar a distribuir as camisetas, especialmente nas principais posições de seu time. 

Nenhum comentário: