segunda-feira, 14 de novembro de 2022


CÍNTIA MOSCOVICH

Vida longa ao Israelita!

Desde que veio a público um vídeo com teor tremendamente discriminatório publicado por um grupo de alunos, a imagem do Colégio Israelita Brasileiro, instituição que já conta com cem anos de existência e que tem uma história de seriedade e de excelência, tem sofrido ataques e enxovalhos desonestos e vis. Como ex-aluna do CIB, eu que frequentei aquelas amadas paredes entre os sete e os 18 anos, me alio, por dever de lealdade, aos defensores do meu colégio, mesmo sabendo que, pela solidez de sua história, a defesa se faz por si.

Criado com base na milenar tradição de valorização e de transmissão do conhecimento tão caras ao povo judeu, com uma grade curricular das mais exigentes, sempre atento à formação humanista e ao apoio à diversidade, lembro que a escola nasceu para abrigar os filhos de imigrantes que não possuíam condições de frequentar as aulas regulares de outros colégios - além de chegarem ao Brasil em precárias condições, muitos deles sequer falavam o português. Com o apoio da comunidade, que sempre participou das atividades escolares - sinagoga e colégio (e logo o clube social) eram o eixo da vida judaica -, o CIB trouxe para seus quadros professores que se destacavam em suas disciplinas e que atuavam como verdadeiros civilizadores. 

Foi assim que o corpo docente do CIB contou, entre outros, com Ruy Carlos Ostermann, Flávio Loureiro Chaves, Sérgio Silva, Flávio Vespasiano, Clarice Motin, Voltaire Schilling, Graça Nunes, Jorge Nery, Luiz Roberto Lopez, Sérgius Gonzaga, Ênio Kaufmann, professores que também nos fomentavam o gosto pelas artes em geral, gestos transgressores numa época de sombria exceção. Foi também o Israelita um dos poucos colégios do país a, em plena ditadura militar, proporcionar que um grupo de alunos reativássemos o grêmio estudantil, fato que promoveu ampla discussão sobre os rumos da democracia.

Não bastasse a imagem do Israelita sofrer ataques por causa de um grupo de alunos de formação defeituosa, também antissemitas saíram de seus esconderijos: na esteira de um imbróglio que envolve jovens de uma instituição de ensino, aproveitam para destilar ódio contra os judeus e contra o Estado de Israel, demonstrando, de uma só tacada, preconceito e racismo - além de exibir total ignorância a respeito da história de meu povo. Os que agem dessa maneira, manifestando-se contra o Estado judaico e contra o Colégio Israelita Brasileiro, não são em nada melhores que aquele grupo de jovens que atacou nordestinos e desvalidos. São muito piores, porque se tratam de racistas que se pretendem moralmente superiores.

CÍNTIA MOSCOVICH

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