quinta-feira, 10 de novembro de 2022



OPINIÃO DA RBS

LISTAS COVARDES

São perturbadores os casos que surgiram em várias cidades do interior gaúcho de elaboração e divulgação de listas de estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços e profissionais liberais que pretensamente deveriam ser boicotados por questões políticas. Espalhadas por aplicativos de mensagens e redes sociais, estas relações são uma covardia inaceitável, motivada pelo simples fato de alguém exercer o direito do voto livre. É o trivial em uma democracia. O respeito a essa escolha constitui-se em um princípio básico de civilidade que, acreditava-se, estaria pacificado no país.

É facultado a qualquer cidadão ficar aborrecido com o resultado de uma eleição. Manifestações, desde que pacíficas, também encontram guarida na Constituição. O assédio eleitoral, no entanto, não deve ser tolerado, e os episódios conhecidos em municípios do Rio Grande do Sul merecem ser devidamente apurados, como a situação ignominiosa que é alvo de análise pelo Ministério Público em Casca. 

Na cidade do norte do Estado, chegou-se ao ponto de sugerir marcar visualmente os estabelecimentos cujos proprietários teriam votado no candidato vencedor da disputa presidencial, escolha minoritária dos eleitores locais. Apenas a ignorância associada a valores distorcidos seria capaz de produzir uma ideia tão abjeta, por lembrar episódios que a humanidade apenas não quer esquecer para que nunca mais voltem a se repetir.

O despropósito também chegou a níveis inimagináveis em Ijuí, onde até a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae) foi incluída como objeto de boicotes. Situações como essas não devem ser normalizadas. Como pode alguém chegar ao ponto de pregar que uma entidade de méritos sociais reconhecidos pelo amparo a pessoas portadoras de deficiência e que nada tem a ver com política partidária ou ideologia seja prejudicada e perca doações por supostos posicionamentos particulares de indivíduos com algum tipo de relação com ela?

É preciso crer que em todas as comunidades onde surgiram essas listas nefastas os próprios proponentes refletirão sobre o erro que cometeram e cessarão com o absurdo. Cabe também às lideranças locais, do poder público e de entidades empresariais, chamar a população à ponderação e ao exercício do respeito. Além de disparatadas, campanhas do gênero prejudicam a economia dessas cidades e apenas contribuem para dividir ainda mais a sociedade. Os afetados são empreendimentos e pessoas que, como os demais, geram empregos, pagam seus impostos e contribuem para o desenvolvimento de suas cidades. Mas os agentes da lei também precisam agir se for necessário, como em Santa Maria, onde se investiga a possibilidade de crime de difamação.

A eleição acabou. Goste-se ou não do resultado, foi um pleito limpo, reconhecido por instituições nacionais e observadores internacionais. O desfecho reflete o desejo legítimo da maioria dos eleitores, que é soberano e deve ser acatado. Passou da hora de dar fim aos desatinos e retomar a normalidade democrática, o que inclui a tolerância política com quem pensa diferente.

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