OPINIÃO DA RBS
PROTAGONISMO AMBIENTAL
Como potência verde, cabe ao Brasil reassumir um papel de protagonismo nas discussões mundiais sobre ambiente e clima. Nesse sentido, fez bem o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, ao decidir participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 (COP27). O evento ocorre no Egito até o próximo dia 18. O convite partiu do presidente do país anfitrião, Abdel Fatah al-Sissi, e Lula, em sua primeira viagem internacional após ganhar as eleições, fará parte da comitiva formada pelo Consórcio de Governadores da Amazônia Legal.
É inequívoco que o atual governo brasileiro perdeu voz nos fóruns globais do tema por desdenhar das estatísticas de desmatamento e queimadas, pelo desleixo com a proteção ambiental e por, movido de teorias conspiratórias, reduzir a preocupação internacional a segundas intenções veladas do Exterior. Ocorre que os números de desflorestamento e de focos de calor são incontestáveis e o aquecimento global, demonstrado por dados científicos, manifesta seus reflexos cada vez de maneira mais frequente, na forma de eventos extremos.
Cuidar da saúde dos ecossistemas nacionais não é de interesse apenas global. É interesse especialmente do Brasil, pela imensa possibilidade de exploração sustentável dos ativos ambientais do país, conciliando o zelo à fauna e à flora com o desenvolvimento econômico e a geração de empregos. A floresta amazônica de pé, por exemplo, é importante para o regime de chuvas inclusive na Região Sul, área de grande produção de grãos e dependente da estabilidade das precipitações.
Ao longo da campanha, a candidatura Lula e seus apoiadores, como a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, fizeram reiteradas manifestações no sentido de que o cuidado com os biomas brasileiros e os povos originários seria uma prioridade. Natural, portanto, que a comunidade global tenha outra vez interesse em retomar o diálogo bilateral e as negociações em fóruns multilaterais. A maior credibilidade facilita a busca por investimentos estrangeiros voltados à economia verde em várias áreas. É capital que falta ao país, e o dinheiro pode começar a fluir em maior volume pela disposição em apostar em negócios sustentáveis e pelo restabelecimento da confiança no Brasil
Ilustra essa nova percepção positiva o anúncio do governo norueguês de ter a intenção de voltar a liberar as verbas do Fundo da Amazônia. São recursos que eram usados para o combate ao desmatamento e estavam parados desde 2019, após o governo Bolsonaro descumprir o acordo com os doadores. Além da Noruega, a Alemanha colocava verbas no fundo e, da mesma forma, mostrou disposição agora de retomar a parceria.
Com o novo governo demonstrando comprometimento em fazer do Brasil um ator importante outra vez na pauta do clima, o país começa a deixar a condição de pária e pode ver a sua imagem internacional melhorar. Não é possível ignorar que, especialmente em nações concorrentes na produção de alimentos, existem setores interessados em prejudicar o agronegócio nacional por motivos protecionistas.
A esmagadora maioria dos agropecuaristas brasileiros produz com responsabilidade ambiental e amplas possibilidades até de explorar o mercado de créditos de carbono. Mas não é razoável negar a existência de uma minoria que não tem a mesma consciência e acaba dando argumentos para os detratores do país. Isso, aliado à postura negacionista do governo, ajudou a paralisar, por exemplo, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.
Mas o importante, agora, é olhar para frente e reunir melhores condições de aproveitar oportunidades. O Rio Grande do Sul enviou uma representação à COP27 para mostrar as suas potencialidades em áreas como energia limpa e produção de alimentos. Uma interlocução facilitada pelos novos compromissos do país também favorece o Estado para se vender como destino para investimentos do Exterior direcionados a negócios alicerçados na sustentabilidade e na corrida global pela descarbonização.
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