quarta-feira, 9 de novembro de 2022



OPINIÃO DA RBS

INADIMPLÊNCIA À ESPERA DE SOLUÇÃO

A elevação contínua da inadimplência no país se torna um obstáculo a ser removido para o consumo interno ser um dos motores do crescimento da economia. Os dados mais recentes sobre as dificuldades para os brasileiros honrarem os seus compromissos preocupam. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 30,3% das famílias tinham contas em atraso em outubro, um avanço de 0,3 ponto percentual em relação a setembro e de 4,7 pontos na comparação anual. Note-se que, em 12 meses, é o maior salto desde março de 2016, quando o Brasil ainda estava mergulhado em uma recessão profunda.

As soluções passam por iniciativas localizadas, por políticas estruturadas de maior alcance, que permitam a renegociação em larga escala das dívidas da população, e, de forma mais sustentável, por uma boa gestão macroeconômica, que permita a continuidade da recuperação da atividade econômica com controle da inflação e possibilidade de redução do juro. São positivas, neste sentido, duas ações que tiveram início no Estado e se prolongam nos próximos dias voltadas a atender cidadãos interessados em resolver as suas pendências - limpar o nome na praça, como se diz popularmente.

Uma delas é a quinta edição do Super Feirão Zero Dívida, promovido pela CDL POA e entidades parceiras. Inclui mais de 200 cidades gaúchas, com a adesão de credores de diversos segmentos. Há um local para atendimento presencial no Centro Histórico da Capital, mas as negociações também podem ser conduzidas pelo site da iniciativa, até o próximo dia 18. Em outra frente, o Feirão Limpa Nome da Serasa recebe consumidores endividados até sábado no Largo Glênio Peres, também no Centro Histórico de Porto Alegre.

A relevância do tema fez o assunto ganhar espaço na campanha eleitoral para a Presidência da República, inicialmente pelo pedetista Ciro Gomes. A candidatura vitoriosa, do petista Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu um programa focado nas famílias mais carentes, com renda de até três salários mínimos, incluindo a renegociação de contas básicas, como água e energia, mas também pendências com outros setores, como bancos e varejo. Para isso, a proposta prevê a criação de um fundo garantidor. Mais detalhes, por enquanto, são escassos. É preciso, portanto, que o mais rápido possível, a equipe de transição do futuro governo dedicada à área econômica formule e apresente o desenho definitivo da proposição para ser possível implementá-la ainda nos primeiros meses da nova gestão.

A edição deste mês da Carta do Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV), vai mais a fundo na questão, ao mostrar que é a população pobre a mais afetada pela alta da inadimplência. A baixa renda é o estrato social em que o problema cresce mais nos últimos meses e, em regra, as dívidas estão localizadas em modalidades mais caras de empréstimo. São pessoas, é preciso lembrar, que em regra têm pouco acesso a educação financeira. Por isso, são presas mais fáceis das armadilhas do crédito fácil.

É verdadeiro que o desemprego vem em queda e a economia está em ritmo melhor do que o imaginado no início do ano devido a uma série de estímulos. Mas os ganhos do trabalho ainda não reagiram como o desejado, os juros subiram e a inflação de itens que respondem por grande parte dos gastos da população das camadas sociais inferiores - como os alimentos - permanece alta. Assim, a renda disponível para o consumo de uma parcela numerosa da sociedade é cada vez menor, colocando em dúvida o ritmo da atividade daqui para a frente. É preciso deter a bola de neve do endividamento e da inadimplência.

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