quinta-feira, 2 de outubro de 2008



PARIS, PARIS

Ir a Paris é como fazer sexo. A gente já sabe como é, fez muitas vezes, conhece os lugares, inclusive certos atalhos, mas sempre quer mais. Eu vou a Paris três a quatro vezes por ano. Não quer dizer que faça sexo na mesma proporção.

Pensando bem, cabe precisar essa afirmação: ir a Paris é como fazer sexo com a mesma pessoa durante muitos anos. A gente já sabe como é, fez muitas vezes, conhece os lugares, inclusive certos atalhos, mas sempre quer mais.

Bem, sei, sei, há quem canse de viajar e não queira mais se repetir. Mas justamente ir a Paris é como fazer sexo com a mesma pessoa durante muitos anos tendo vontade de fazer mais. Esse é o mistério de Paris. Não cansa.

Não se esgota. Há sempre algo novo a descobrir por quem não se limita a fazer o mesmo ou a visitar somente o Louvre e a Torre Eiffel. Ainda que toda uma vida não seja suficiente para explorar eroticamente toda a arte desse belo museu.

Pode até parecer clichê. Ou irreal. Mas para quem gosta é assim que funciona. O apaixonado por Paris, assim como o apaixonado por uma mulher, ama seus cheiros, doces ou acres, seus recantos, suas colinas (quem não se encanta com a Sacre-Coeur lá no alto?), suas curvas, seus museus, suas roupas e seus cafés. Nada como os cafés de Paris.

Nada como o café de uma mulher que se ama. Se a alta-cozinha e alta-costura são profissões masculinas, especialmente a primeira, só as mulheres sabem fazer cafés sublimes.

xistem homens que adoram novidades. Querem conhecer outras cidades, outros países, outras mulheres. Eu mesmo pretendo ir à África negra em fevereiro. Ano passado, fomos, com Michel Houellebecq, à Patagônia.

O novo tem seu charme. Nada, porém, como o reencontro com uma terra longamente acariciada. Confesso que já tive vontade de beijar Paris de cima a baixo.
Todo mundo sabe que uma cidade é um corpo. É preciso que a gente se encaixe nele.

A sensualidade de Paris começa nos elevadores dos hotéis. Quase sempre apertados. As mulheres parisienses falam com um tom ligeiramente infantil e fazem trejeitos de bonecas. Deve ser por isso que há tanta preocupação com a pedofilia na Europa.

Paris é profundamente feminina para o bem ou para o mal. Pode parecer machista, mas Paris tem humor de mulher. Tem dias que amanhece amuada, de cara fechada, fazendo beicinho, cinza. Por nada.

Pode ficar assim por semanas inteiras. De repente, muda tudo, surge produzida, luminosa, ensolarada, sensualíssima, ousada, provocativa, luxuosa, luxuriosa e tira todo mundo do sério. O transbordamento pode ser com uma taça de champanha ou com uma caminhada.

Paris pode ser tão dura quanto certas mulheres. Quando não quer mais, de nada adianta insistir. Não duvido que os homens também sejam assim.

verdade é que sempre preferi observar o comportamento feminino. Nunca encontrei alguém que dissesse: Já fiz sexo uma vez. Para que fazer de novo? Nunca encontrei alguém que dissesse: já fui a Paris uma vez. Para que ir de novo?

Claro que existem os imorais, os polígamos, os adúlteros e os insaciáveis. Tenho um amigo que quer ter, ao mesmo tempo, Paris, Londres e Berlim. Doce ilusão. Cedo ou tarde, terá de escolher. Estou em Paris.

Por três dias. Não posso ficar trancado num quarto de hotel com Paris. Nem que fosse a Hilton. Ou muito menos. Paris exige que se pise em cima dela até cansar. Bom seria com os pés descalços.

juremir@correiodopovo.com.br

Nenhum comentário: