sábado, 4 de outubro de 2008



04 de outubro de 2008
N° 15748 - PAULO SANT’ANA


De pai para filho

Quando o pai se separou da mãe, fato acontecido em nossa cidade e com muita repercussão nos círculos íntimos da família, o filho, que tomara o partido do pai na série de negociações conflituosas que permeou a separação, foi morar com ele.

O filho, solteiro, em torno dos 26 anos, rompeu relações com a mãe. O ex-marido apenas mantinha os contatos formais com a ex-mulher, restando da separação seqüelas irreparáveis.

Até consolidar a ruptura, o pai foi aos poucos curando as chagas, o filho solidário com ele. Saíam juntos, iam jantar quase todos os dias, apenas os separavam os amigos. O pai ligado aos antigos, quase todos eles casados. O filho dedicando-se à sua roda de juventude.

Até que um dia o pai apresentou ao filho sua nova namorada: uma portentosa loira de 30 anos de idade, que com o passar do tempo foi conquistando o pai, retirando-o do poço escuro da solidão e instituindo com o coroa uma venturosa e inquieta relação sexual, que terminou em união permanente.

A loira foi viver com o pai do rapaz, juntando-se a ele no apartamento que dividia com o filho. De certo modo, a incendiária paixão que se instalou entre o pai e a loira acabou por afastar o filho do pai. Este só tinha olhos para sua nova companheira, que o fazia mergulhar em delícias carnais nunca antes usufruídas.

A lealdade do filho com o pai fazia feliz o garoto, seu pai era outro depois que fora envolvido pelo novo amor, sua vida renascera, mostrava-se disposto, alegre, realizado.

Sucederam-se mais de 18 meses da nova união do pai com a loura estonteante, de quem o filho se tornara naturalmente amigo na convivência diária da habitação e em jantares esparsos em que os três compareciam.

Até que o pai foi percebendo aos poucos a ação do punhal afiado do fastio na sua relação com a loura. Já não era o mesmo, os vaticínios usuais de que a diferença de idade acabava por murchar o entusiasmo das relações amorosas entre um homem maduro e uma moça acabaram por confirmar-se.

Um certo dia, a grande amizade do filho com o pai impôs ao filho o sacrifício da revelação: o rapaz convidou o pai para jantarem sozinhos.

E foi com coração partido e um estado de pavor que transmitiu ao pai o seu segredo: estava profundamente apaixonado pela loira, a nova mulher do pai.

A convivência nos escaninhos do apartamento os havia aproximado de tal forma que os dois deixaram-se cair num idílio encantador e perigoso, mas definitivo.

O pai passou a odiar o filho e seu destino. Mas por motivos financeiros permitiu que no próprio apartamento fossem invertidos formalmente os papéis. O pai foi morar no quarto do filho, o filho passou a ocupar a cama de casal com a loira.

Durou exatamente oito meses a nova situação. Porque em seguida o pai reconciliou-se com a mãe de seu filho e voltou a morar com ela. Vivem relativamente felizes os dois casais.

Mas a antiga mulher do pai, tripudiando sobre a “operação bumerangue” humildemente a que o pai do rapaz foi submetido, por vezes não deixa escapar a oportunidade de espetar o seu marido pródigo:

- Eu sempre te avisei que teu filho era um mau-caráter.

(Coluna publicada em 29/01/99)

Nenhum comentário: