segunda-feira, 4 de maio de 2020


04 DE MAIO DE 2020
CRISE EM BRASÍLIA

Escalada de tensão entre o Planalto e o Supremo


A presença do presidente Jair Bolsonaro em mais um ato de apelo antidemocrático ocorre em meio a uma nova escalada nas tensões entre o Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF). Embora o novo ministro da Justiça, André Mendonça, e o presidente do STF, Dias Toffoli, estejam agindo para apaziguar os ânimos, Bolsonaro mais uma vez fez provocações veladas à Corte.

As declarações tumultuam ainda mais o ambiente institucional. Nos últimos dias, o governo tem sofrido sucessivas derrotas na Corte.

Aposta

Bolsonaro não desistiu da indicação de Alexandre Ramagem e está disposto a dobrar a aposta no enfrentamento com o STF. Enquanto espera o julgamento do recurso da Advocacia-Geral da União, pretende nomear um preposto do amigo para a PF. O nome mais cotado é Rolando Alexandre de Souza, atual secretário de Planejamento e Gestão da Agência Brasileira de Investigação (Abin) e tido como braço direito de Ramagem.

Nos bastidores do Supremo, contudo, não há nenhuma garantia de que não haja um novo impedimento. Os ministros não estão dispostos a tolerar ataques e provocações, tampouco eventuais tentativas de dribles às decisões, sejam monocráticas ou coletivas.

Quem transita pelos corredores do tribunal comenta que Bolsonaro escolheu o método errado de brigar com o STF. Na Corte, é preciso dividir para vencer. Ao insuflar os apoiadores contra os ministros e atacá-los pessoalmente, como fez contra Moraes, e não a decisão em si, o presidente conseguiu um rechaço unânime, atiçando o espírito de corpo dos magistrados.

A turbulência aumenta em meio à certeza no Planalto e no próprio STF de que é iminente o vazamento do conteúdo do depoimento de Sergio Moro. As supostas provas que o ex-ministro teria entregue à PF, como mensagens de áudio, texto e e-mails com tentativa de interferência na instituição, podem fragilizar a situação jurídica e política do presidente.

Além desse inquérito, há duas outras apurações que podem respingar em Bolsonaro: a investigação de fake news e do ato em apoio a uma intervenção militar. Ambas são conduzidas por Moraes, cuja casa foi alvo de protestos de bolsonaristas no sábado, em Brasília.

FÁBIO SCHAFFNER

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