04 DE MAIO DE 2020
CRISE EM BRASÍLIA
Presidente volta a apoiar ato contra o STF e o Congresso
Chefe do Executivo diz que Forças Armadas estão "ao lado do povo", que não admite interferência e que "acabou a paciência"
O presidente Jair Bolsonaro voltou a prestigiar pessoalmente manifestação, em Brasília, de seus apoiadores com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso. No ato, havia faixas pela intervenção militar. Diversos ministros do STF, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), outros políticos e entidades reagiram ao protesto, que teve agressão a profissionais da imprensa.
No dia 19 de abril, Bolsonaro participou de ato, em frente ao Quartel-General do Exército, que defendia a intervenção militar. Ontem, em transmissão em rede social, disse que "queremos a independência verdadeira dos três poderes, e não apenas uma letra da Constituição. (...) Chega de interferência. Não vamos admitir mais interferência. Acabou a paciência". Ele afirmou que se tratava de "manifestação espontânea, pela democracia".
Desta vez, o ex-ministro Sergio Moro também foi alvo do protesto. O ex-juiz federal saiu do governo acusando o presidente de querer interferir na Polícia Federal e depôs no sábado. No fim de semana, ambos trocaram farpas por rede social (leia mais na página 11).
Na live, Bolsonaro também disse:
- Nós temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia e pela liberdade. E o mais importante, temos Deus conosco.
Ao final, acrescentou:
- Peço a Deus que não tenhamos problemas essa semana. Chegamos no limite, não tem mais conversa, daqui pra frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição, ela será cumprida a qualquer preço, e ela tem dupla mão.
Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada e foi até a rampa do Palácio do Planalto, com a filha Laura, para acenar aos apoiadores, aglomerados. Uma carreata começou por volta das 10h30min, descendo a Esplanada dos Ministérios em direção à Praça dos Três Poderes.
No ato, o presidente voltou a atacar governadores por medidas de distanciamento social e criticou o que chamou de "interferência" em seu governo, numa alusão às recentes medidas do STF. Nos últimos dias, Bolsonaro demonstrou irritação com a decisão do ministro Alexandre de Moraes de barrar a nomeação de Alexandre Ramagem para a direção-geral da PF.
Agressão
No protesto, manifestantes pró- governo agrediram, ameaçaram e expulsaram jornalistas que cobriam o ato na rampa do Planalto. Enquanto o presidente acenava para apoiadores, o grupo passou a dirigir ofensas ao repórter fotográfico Dida Sampaio, de O Estado de S. Paulo, que registrava o momento.
Um grupo se formou ao redor do fotógrafo, que foi derrubado duas vezes, chutado pelas costas e tomou um soco no estômago. Além dele, Marcos Pereira, motorista do jornal, foi agredido. Outros profissionais de imprensa foram empurrados e ofendidos verbalmente. Ao ser alertado, Bolsonaro comentou:
- Pessoal da Globo vem aqui falar besteira. Essa TV foi longe demais.
Em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) condenou as agressões e cobrou resposta das autoridades. Em Porto Alegre, também houve ato a favor do presidente em frente ao Comando Militar do Sul. Em seguida, um segundo grupo contrário a Bolsonaro chegou ao local. Conforme o 9º Batalhão da Polícia Militar, a corporação formou uma espécie de cordão para evitar conflitos.
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