10 DE MARÇO DE 2020
EFEITO NO BRASIL
Maia rebate Guedes sobre ação anticrise
Presidente da Câmara defende medidas amplas, após ministro da Economia dizer que está sereno e que reformas bastam
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM- RJ), rebateu ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes, e afirmou que apenas as reformas não bastam para conter a instabilidade econômica que afetou o país em decorrência da crise internacional. Maia fez breves declarações ao chegar a um evento de educação em Brasília. Questionado sobre se era hora de acelerar as reformas no país, como defendeu Guedes mais cedo, o presidente da Câmara disse que o Executivo também precisa adotar algumas iniciativas, além das propostas tributária e administrativa.
Guedes afirmou que o governo está sereno e que a melhor resposta à crise será o andamento de reformas estruturais. Ele não mencionou se medidas adicionais podem ser adotadas.
- Estamos absolutamente tranquilos e confiantes de que a democracia brasileira vai reagir transformando essa crise em avanço das reformas - disse ao chegar no Ministério da Economia. - É hora de termos uma atitude construtiva. Os três poderes, com serenidade, cada um resolver sua parte. Não está na hora de ninguém pedir privilégio, pedir aumento, pedir facilidade - acrescentou.
O ministro argumentou que o mundo já estava em desaceleração e que a crise internacional agora está se aprofundando. Ele ponderou que o Brasil vive situação diferente, com uma reaceleração da atividade, e tem dinâmica própria.
Maia reagiu: - Tem algumas ações que o governo vai ter de tomar, algumas atitudes, e parte delas, parte da solução de médio e longo prazo, são as reformas.
Em Miami, nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, pela manhã, que seu governo é leal à política econômica de Guedes. Em discursos a empresários brasileiros, o presidente disse que o Planalto tem buscando implementar as medidas propostas pelo ministro "de todas as formas".
Maia cobrou o envio dos textos sobre as reformas ao Congresso. O governo tem prometido, desde o ano passado, mandar as propostas tributária e administrativa, mas, até agora, não as encaminhou aos congressistas.
- Ainda não chegou a administrativa nem a tributária, e a (proposta de emenda à Constituição) emergencial, o governo decidiu encaminhar uma pelo Senado e não utilizar a do deputado Pedro Paulo, que estava pronta desde 2017, 2018 - criticou. - Estamos prontos para ajudar, como colaboramos no ano passado com toda a agenda de reformas. Acho que elas ajudam, mas certamente não são o único ponto para solucionar os danos da crise - acrescentou.
Guedes disse que a reforma administrativa será enviada ao Congresso "assim que possível". Sobre a tributária, afirmou que a apresentação será feita nesta semana ou na próxima.
Ansiedade
O presidente da Câmara indicou ainda que espera que a reforma tributária avance até o início de maio, mas ressaltou que a administrativa deve atrasar - a expectativa inicial era votar o texto ainda no primeiro semestre:
- Preciso aprovar na Comissão de Constituição e Justiça primeiro, então, vai demorar.
O deputado também voltou a pedir mais diálogo do governo com o Legislativo e o Judiciário e disse que cabe ao Executivo deixar claro como os outros dois poderes podem auxiliar no processo de retomada de crescimento econômico. Ao deixar o evento, Maia voltou a falar sobre as reformas e afirmou que o momento é grave.
- O Parlamento nunca faltou ao Brasil em momentos de crise e não vai ser diferente agora, muito pelo contrário. Tem pautas de médio e longo prazo, como as duas reformas que o governo deve encaminhar nos próximos dias, então, estamos aguardando ansiosos já há alguns meses, e certamente o governo tem outras ações que vai precisar tomar nos próximos dias - ressaltou.
O dirigente da Câmara, no entanto, evitou citar exemplos.
- Não vou ficar me intrometendo, se não vão ficar dizendo que estou querendo me intrometer onde não devo - comentou.
Ao ser questionado especificamente sobre as declarações de Guedes de que era preciso tocar as reformas, Maia ironizou:
- Ele falou isso hoje (ontem)? Acho que ele repetiu meu tuíte (de domingo à noite). Quer dizer que estamos sintonizados.
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