sábado, 7 de março de 2020


07 DE MARÇO DE 2020
MARTHA MEDEIROS

Uma questão de habituar-se


Se você está farto (ou farta) de ler a respeito de como as mulheres devem ser tratadas, este 8 de março será um dia intragável. Se acha que tudo não passa de mimimi, tape os ouvidos. Se considera o assunto uma chatice, olha, de fato, é uma chatice. Parece até que há um complô contra os homens e de que ninguém mais pode ser espontâneo com uma mulher. Só que não é bem assim. Me dê sua mão, coragem. Vamos juntos até o final deste texto.

Lembra que houve um tempo em que mulheres não podiam votar? Nos Estados Unidos, o movimento sufragista começou a ser articulado em 1848, mas só em 1893 o Estado do Colorado concedeu o direito a elas. Em outros três Estados, o direito veio em 1896, e em 1920, finalmente, em todo o país. Faça as contas: a luta americana durou mais de 70 anos. No Brasil, uma advogada chamada Diva Nazário entrou com um pedido para obter seu título de eleitora em 1922. Negado, naturalmente. Só em 1930 é que as brasileiras solteiras e viúvas conquistaram esse direito (as casadas precisavam da permissão do marido). Em 1932, enfim, garantimos o voto livre para todas - 12 anos depois dos Estados Unidos. As sauditas tiveram que esperar um pouco mais, até o final de 2011.

Direitos não são conquistados da noite para o dia. É bastante difícil mudar um costume e decretar um novo normal. É necessário muito tempo investido, muito ativismo, muito debate, muita insistência, muita...chatice.

Evolução é um processo que não se esgota. Conquistados alguns direitos, inicia-se a luta por outros. Mulheres não toleram mais ser alvo de comentários machistas. Mulheres não querem continuar se sentindo diminuídas por ter o cabelo crespo ou o corpo volumoso. Mulheres precisam parar de morrer nas mãos de homens que não sabem lidar com rejeição. Há quem ache que deveríamos continuar nos preocupando apenas com concursos de beleza. Ok, estamos ligadas nisso também. Em fevereiro, foi eleita a Miss Alemanha 2020: uma empresária de 35 anos (o limite de idade foi ampliado para 39), mãe de um menino de três (as casadas agora podem concorrer). Não houve desfile de biquíni, e o júri foi todo composto por mulheres. Antes era melhor? Dá a impressão que sim, pois era o que a gente conhecia. Agora tudo nos parece estranho e complicado, mas é só porque não acostumamos ainda.

A gente conseguiu se habituar a mulheres que votam, e também a mulheres que trabalham fora e têm vida sexual ativa, então certamente iremos nos habituar a mulheres negras em cargos de chefia, a mulheres mais velhas em capas de revista, a mulheres totalmente sem medo - e sem ninguém com medo delas também. Vai levar quantos anos? Depende de nós, do nosso interesse em evoluir e não achar mais nada disso esquisito.

MARTHA MEDEIROS

Um comentário:

nana disse...

o chato é o massacre dos direitos conquistados e não é só o dia da mulher ou da mãe é dia do negro dia do gay enquanto houver a dia TAL será uma chatice