07 DE MARÇO DE 2020
+ ECONOMIA
Juro e dólar em impasse no Brasil
Como se previa nos relatórios matinais, a bolsa de valores de São Paulo perdeu, na sexta-feira, o nível simbólico dos 100 mil pontos alcançado pela primeira vez em março de 2019. Um novo tombo de 4,14% levou o Ibopespa a 97.997 pontos. O dólar, no entanto, freou uma sequência de 11 recordes consecutivos e fechou em ligeira baixa de 0,36%, para ficar em R$ 4,634.
Pesou no mercado financeiro a informação de que a saída de investidores estrangeiros do mercado de ações no Brasil somou R$ 44,8 bilhões entre 1º de janeiro e 4 de março. O valor superou, em apenas 64 dias, a soma das saídas acumuladas em todo o ano passado, de R$ 44,5 bilhões, por sua vez um recorde histórico no Brasil. Essa fuga decorre principalmente dos sucessivos cortes no juro básico, que levaram a taxa Selic a 4,25%. Quase do mesmo tamanho da inflação anual, não rende a investidores o ganho extra que compensaria o risco maior de apostar no Brasil.
Esse é um dos motivos pelos quais os investidores no Brasil estão com incertezas ainda maiores do que nos demais mercados. Desde que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou um inesperado corte de 0,5 ponto percentual, na terça-feira, há expectativa de que o Banco Central brasileiro faça o mesmo.
No entanto, economistas ponderam que não faz sentido o BC manter a intervenção no câmbio para frear a alta do dólar se vai tomar uma medida - nova poda na Selic - que incentiva esse mesmo movimento.
Até entender o que pode acontecer, o mercado freou o movimento de alta contínua mesmo sem novas medidas do BC, como os investidores pediam na véspera. Depois do fechamento do mercado, a instituição anunciou um leilão de linha - oferta de dólares físicos, com compromisso de recompra posterior - de US$ 1 bilhão para a próxima segunda-feira. É uma tentativa de garantir mais tranquilidade na retomada das operações.
Feira negociou ausência de chineses
Para garantir a realização da 44ª edição da Fimec, em Novo Hamburgo, na próxima semana, foi preciso negociar a ausência de chineses e italianos. A prefeita de Novo Hamburgo, Fátima Daudt, havia sugerido cancelar.
No início de janeiro, a inquietação era com o risco de guerra entre Estados Unidos e Irã. Quinze dias depois, já havia negociações para que os chineses não viessem à feira. Dois dos maiores expositores são italianos - Atom e Comelz -, então também foi preciso discutir a conveniência da presença de pessoas do país que mais tem casos depois da China. Como ambas têm unidades em Novo Hamburgo, ficou combinado que os funcionários brasileiros vão se encarregar dos estandes.
Tanto o ministério quanto a secretaria estadual da Saúde garantiram que não havia objeção, desde que fossem tomadas providências para evitar contágio. A organização contratou um infectologista e montou um plano que inclui até um contêiner, para checagem médica, pelo qual vão passar participantes que vêm dos países considerados de risco antes de entrar na feira.
Cada visitante receberá, na entrada, um sachê com álcool gel. Há mais uma dezena de medidas de precaução. Segundo Márcio Jung, diretor-presidente da Fenac, esses cuidados aumentaram em cerca de 3% o custo total da montagem da feira.
- Foi mais trabalhoso do que caro - detalha.
"Vamos investir em infraestrutura em energia"
CARLOS TAKAHASHI Diretor da BlackRock no Brasil
A carta de Larry Fink, CEO da maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock, orientando clientes a não investir ou sair de empresas não sustentáveis, redefiniu a questão ambiental nos negócios. Na sexta-feira, o diretor nacional da administradora de US$ 7,4 trilhões, Carlos Takahashi, disse que a BlackRock vai investir em energia no Brasil, depois de uma palestra em evento do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
O viés ambiental nos negócios é moda ou vai se impôr?
Definitivamente não é modismo. É uma necessidade. Os investidores estão acordando para isso. Essa mudança é geracional. A mudança demográfica que estamos experimentando, com participação maior da mulher nos processos de decisão, e a maior consciência das gerações anteriores fazem com que os investidores acordem para isso. Quando os empresários começam a trazer essa preocupação, isso gera uma capacidade grande de mover todo o ecossistema ligado aos investimentos e, consequentemente, à economia. Até porque hoje a gente já vê que descuidos com aspectos ambientais, como o da Vale, causam impacto nos preços dos ativos. Essa precificação vai estar cada vez mais presente: o risco e o retorno, considerados os aspectos ambientais e sociais.
A BlackRock está saindo de investimentos que usem carvão como fonte de energia?
Há duas decisões. No caso de empresas de mineração, a BlackRock vai desinvestir (vender sua parte). Já estamos fazendo isso. Para as que usam energia que têm carvão como fonte, vamos solicitar informações sobre como farão a transição para fontes limpas. Também pedimos a quem tem índices, como o Ibovespa, para inclusão de critérios ambientais e sociais na composição.
A BlackRock vai investir em energia no Brasil?
Vamos investir em energia. É uma ação ainda bastante inicial. É focada em geração hídrica, eólica e solar. Já está começando, é uma estratégia de longo prazo. Temos um time no Exterior que faz esse trabalho. Eles têm olhado com bastante atenção as oportunidades aqui. A BlackRock já tem participação importante no negócios de infraestrutura no México, tem negócios na Colômbia, e a ideia é trazer para o Brasil essa experiência nesses países. Vemos oportunidades interessantes de investimento no Brasil.
<< A SEMANA QUE EU VI
O TIRO DO FED
A decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de fazer um corte extraordinário de 0,5% ponto percentual, na terçafeira, deveria tranquilizar os mercados. Acabou acentuando o nervosismo. Uns dizem que foi um tiro no pé, outros no peito. Desde então, os tombos nas bolsas se acentuaram.
NEGÓCIOS NO RS
No Estado, há empresas que enfrentam redução de estoques e outras que projetam mais vendas devido à epidemia de coronavírus, de álcool gel a máquinas. Também há casos de aumento de preços, especialmente de eletroeletrônicos.
PIBINHO...
Embora não tenha surpreendido pelo resultado geral, um pequeno avanço de 1,1%, o PIB de 2019 trouxe dados inquietantes do quarto trimestre, como a queda de 3,3% nos investimentos. Como são novos projetos que fazem a economia andar, houve redução geral nas projeções para o crescimento em 2020.
... E DOLÃO
Intervenções do Banco Central não evitaram que o dólar engatasse sequência de altas que impressionou até o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele admitiu que pode chegar a R$ 5 "se tiver muita besteira", mas "desce" se ele fizer tudo certo. Todos na torcida para que assim seja.
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