03 DE MARÇO DE 2020
CARPINEJAR
Contra o suicídio, só a família
As estruturas familiares precisam ser mais fortes do que as redes sociais. É o antídoto usado para não perdermos os nossos jovens pelo suicídio. É fundamental que os likes e os comentários dentro de casa sejam mais contundentes e numerosos do que nas páginas pessoais.
Estaremos, dessa forma, combatendo as aparências dos avatares, aquela vida perfeita e ilusória que só aumenta o sofrimento, por contraste, de quem se sente excluído.
Ou alguém duvida que a angústia vem aumentando na web, onde o mundo inteiro é feliz, sarado e influente? É stalkear algumas horas para se descobrir fracassado. Qualquer um sente que sua biografia não presta, que seus problemas são exceção diante da harmonia coletiva.
Antes, era difícil sobreviver à infância, pela precariedade das vacinas e qualidade dos partos. Hoje, mais do que a velhice, o difícil é superar a adolescência, quando a carência e a necessidade de afirmação escancaram a porta com perigosas precipitações. O adolescente tem mais risco de morrer do que o velho. É uma estatística, não uma opinião.
Pois ele conta unicamente com a família para ajudar a digerir as altas expectativas da escolha profissional, as transformações do corpo, o bullying, a aceitação sexual. Não é pouca coisa para suportar.
A família não pode se tornar mais um lar-dormitório. Urge assumir a sua condição de retaguarda moral e emocional. Temos a obrigação de mostrar as nossas dores e dúvidas para que os filhos não pensem que somos também super-heróis.
Que os pais diminuam o ritmo do trabalho, que os avós recebam convocação para um convívio mais estreito, que as madrastas e os padrastos não tenham um papel decorativo, que os irmãos sejam postos a par de tudo, como anjos infiltrados na escola e na rua.
Que se estabeleça uma rotina de falar muito para que o adolescente encontre liberdade de opinar. Não é com meia horinha de cumprimento à noite que dá para entrar de sola num assunto sério.
Que o almoço e o jantar voltem a reinar dentro de casa, com as pessoas se servindo e se observando. Sem essa de comer depois, sem essa de se trancar no quarto.
Os espaços de coexistência exigem uma nostálgica ampliação. Ninguém diz o que incomoda em particular, mas dentro do manancial de longa presença, num comentário fortuito em brincadeira, sem grandes pretensões de lição de moral.
Avisem aos seus filhos que eles não estão sozinhos, que as publicações não são bem assim, que o medo passa e o afeto fica.
CARPINEJAR
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