quarta-feira, 9 de janeiro de 2008



09 de janeiro de 2008
N° 15473 - Martha Medeiros


Tudo bem?

Você pergunta se está tudo bem para mais ou menos 25 pessoas a cada dia. Não fiz as contas, mas deve ser esta a média. Seja na rua, no escritório, ao telefone ou dentro do seu prédio, você dispara um monte de "tudo bem?", variando às vezes com um "tudo bom?" ou "como vai?".

Seja quem for o destinatário do seu cumprimento, ele responderá que sim, está tudo bem. Na pior das hipóteses, responderá "tudo indo".

Pode parecer uma resposta mal-humorada, mas é preferível alguém responder "tudo indo" do que desfiar um rosário de queixas. Se não está tudo bem para o indivíduo, ele respondendo "tudo indo" já sabemos que poderia estar melhor, só que ele está nos poupando dos detalhes. É uma criatura educada.

O problema é que a gente se sente meio culpado em ficar quieto depois de um "tudo indo". Tudo indo pra onde? Ribanceira abaixo?

De mal a pior? Seguidamente cruzo com uma moça com quem simpatizo mas não tenho intimidade, e a cada vez que pergunto a ela se está tudo bem, ela me responde "tudo indo" com um jeito de quem vai cair em prantos.

Há pelo menos um ano que está tudo indo pra ela. E eu fico torcendo para que esteja tudo indo às mil maravilhas, que tudo esteja indo de vento em popa, indo melhor do que o esperado. Mas não é nada disso que sugere o olhar sorumbático dela.

Na verdade, todos nós estamos indo, que é melhor do que estar tudo parado. Estamos indo rumo a novas eleições para prefeito, indo rumo a contas mais arrochadas, indo rumo a pessoas que ainda não conhecemos, indo rumo a dias melhores, a dias piores e, encaremos: indo rumo à morte, se me permite ser uma desmancha-prazer. É duro, mas a outra opção é estacionar, não ir a lugar algum.

Eu estou bem e estou indo. Não conheço ninguém que não esteja indo. Não significa que todo "indo" seja um deixar-se levar sem entusiasmo. Estamos indo rumo às férias, rumo ao Carnaval e rumo a novos acontecimentos. Parece bom.

Se eu continuar sem inspiração como hoje, o único rumo que vou tomar é o do departamento de RH para acertar minhas contas. Como você pode comprovar, aqui nest a coluna, tudo indo. Às vezes, sem norte algum, mas indo.

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