sábado, 5 de janeiro de 2008



05 de janeiro de 2008
N° 15469 - Paulo Sant'ana


Versos íntimos

Eu gosto muito da história que vou reproduzir no parágrafo posterior porque ela trata de um princípio e sentimento que tento cultivar, embora não o consiga muitas vezes: a lealdade entre as pessoas.

A história é a seguinte:

- Meu amigo não voltou do campo de batalha, senhor. Solicito permissão para ir buscá-lo - disse um soldado ao seu tenente.

- Permissão negada - replicou o oficial. - Não quero que arrisque a sua vida por um homem que provavelmente esteja morto.

O soldado, ignorando a proibição, saiu, e uma hora mais tarde regressou, mortalmente ferido, transportando o cadáver de seu amigo.

O oficial estava furioso:

- Já tinha dito que ele estava morto!!! Agora eu perdi dois homens! Diga-me: valeu a pena trazer um cadáver?

E o soldado, moribundo, respondeu:

- Claro que sim, senhor! Quando o encontrei ele ainda estava vivo e pôde me dizer: "Tinha certeza que você viria!".

A moral desta história é que amigo é aquele que chega quando todo mundo já se foi.

Tenho recebido muitos e-mails de leitores cujo sentido se resume a este conceito que nutrem sobre mim: eles mandam dizer que não me consideram megalomaníaco.

Megalomaníaco, dizem eles, é todo aquele que se considera superior ao que realmente é.

Já comigo, insistem eles, dá-se exatamente o contrário: todos os auto-elogios que faço não são somente verdadeiros como ainda inferiores ao meu merecimento.

Observando atentamente as praias neste verão, reparei que 90% das pessoas que passam o veraneio no Litoral nunca entram no mar, isto é, não se banham na praia.

Depois, mais estudioso deste fenômeno, verifiquei que, por óbvio, os 90% que não tomam banho vêem como atração principal não a água do mar, mas o sol.

Tanto que, nos dias que não tem sol, a praia fica vazia, embora a água do mar esteja sempre presente.

Este meu estudo psico-demográfico-social estou enviando para a ONU analisar.

O maior verso de Chico Buarque de Holanda é: "Eu te perdôo por te trair".

O maior verso de Lupicínio Rodrigues é: "Quem nos vê brigar/ quase a nos matar/ há de pensar que esta louca não gosta de mim".

O maior verso de Luiz Coronel é: "Geada vestiu de noiva os galhos da pitangueira".

Os maiores versos de Augusto dos Anjos são: "A mão que afaga é a mesma que apedreja/ se alguém causa ainda pena a tua chaga/ apedreja esta mão vil que te afaga/ e escarra nesta boca que te beija".

O verso imortal de Orestes Barbosa: "Tu pisavas nos astros distraída".

E os maiores de todos os versos da língua portuguesa são de Luiz de Camões, escritos diante do caixão fúnebre de sua noiva, falecida em Lisboa:

"E se vires que pode merecer-te/ alguma coisa a dor que me ficou/ da mágoa sem remédio de perder-te/ roga a Deus que teus anos encurtou/ que tão cedo de cá me leve a ver-te/ quão cedo de meus olhos te levou".

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