quinta-feira, 21 de março de 2024



21 DE MARÇO DE 2024
TULIO MILMAN

Diversionismo lulista

Preocupado com a sua queda de popularidade, o presidente Lula passou uma carraspana em seus ministros. Salta aos olhos que tanto a reunião quanto o seu conteúdo se tornaram públicos rapidamente, apesar de os participantes terem sido proibidos de entrar na sala com celulares, a exemplo do que acontece com alunos adolescentes em muitas escolas do país.

Nitidamente, a encenação faz parte de uma estratégia presidencial que terceiriza culpas por escolhas e decisões suas. A exemplo de muitos governantes, Lula é viciado em aplausos - os dirigidos a ele.

Por isso, se comporta como um conhecido treinador de futebol brasileiro: quando o time ganha, o mérito é dele. Quando perde, os jogadores não executaram o que havia sido planejado.

Definitivamente, a culpa não é dos ministros. E se fosse, a solução seria simples: trocá-los. Isso se o governo não estivesse preso até a alma nas indicações de cargos políticos que mantêm Lula no poder.

Lula perdeu popularidade por motivos claros. Primeiro, porque parece não haver compreendido que ele e o mundo mudaram desde que ganhou a sua primeira eleição. Mais de 20 anos atrás, o metalúrgico que chegava ao poder pelo voto era festejado como o novo líder de um capitalismo pautado pelo social. O sonho acabou. Mas Lula ainda acredita ser "o cara".

De fato, tem motivos reais para estar preocupado: a queda de popularidade se dá, obviamente, entre os que votaram nele. Do ponto de vista concreto, a amizade com ditadores e o papel de inocente útil do Hamas ajudaram a derrubar o seu prestígio. 

Pesam muito nessa equação as contradições entre a defesa da energia limpa e a adesão à Organização dos Países Produtores de Petróleo, além das centenas de mortes de yanomami em 2023 - mais do que no governo de seus antecessor, a quem chama de "genocida". Para Lula, porém, a crise humanitária daqui merece menos atenção do que a do Oriente Médio, sobre a qual dá palpites desprovidos de autoridade e de conhecimento. De quem é a culpa? Dos ministros. 

E sua, que lê este texto, porque, de acordo com o próprio Lula, interpretou mal o que ele quis dizer quando comparou uma guerra que não foi iniciada por Israel com o massacre de judeus pelos nazistas. Lula jamais recuou ou se desculpou pela asneira. Preferiu afirmar que não disse o que disse. Compreensível. Ele sabe que tem um monte de ministros para culpar.

TULIO MILMAN

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