09 DE MARÇO DE 2024
CLAUDIA TAJES
O mundo sem mulheres
Um mundo sem homens seria igualmente ruim, mas já que estamos no Dia Internacional da Mulher, proponho aqui uma reflexão: e como seria se a gente não existisse? Começa que todas as histórias seriam contadas de um jeito diferente.
Adão e Adão II, depois de provarem da jaca, acabariam expulsos do paraíso. O padroeiro do Brasil seria o Nosso Senhor Aparecido. Freud não bombaria.
Não haveria Edith Piaf. Nina Simone. Madonna. Alcione. Bethânia. Gal. Beyoncé. Para quem se incomoda com a Anitta, não haveria Anitta. Que pelo menos os Brunos Mars e os Harry Styles se multiplicassem.
Clarice, não haveria. Virginia. Conceição. Wislawa não escreveria, ante o assombro de mais uma sexta-feira: se eu pudesse ao menos praticar uma quarta-feira antes ou ao menos repetir uma quinta-feira outra vez.
Adeus, Madame Bovary. Anna Karenina. Mrs. Dalloway. Alice. Capitu. E Fernanda Montenegro. Viola Davis. Todas as atrizes. Seria decretada a chatice eterna do cinema, tem coisa mais sem graça que filme só com personagens masculinos?
A culinária sofreria muitas baixas. Cueca Virada seria o must. Bolo de vó, pode esquecer. Quindim de Iaiá. Picadinho Maria Luiza. Pavlova. Pastel de Santa Clara. Madeleines. Carolinas. Crepe Suzette. Pizza Margherita. O almoço da sua mãe. Aliás, sua mãe. Sua avó, aquela do bolo. Suas tias, irmãs, primas, amigas, colegas.
Suas professoras. Um mundo sem professoras é um mundo mais triste.
As mulheres que cortam seu cabelo, atendem você na lojas, restaurantes, mercados e mercadinhos, bancos, consultórios, escritórios, as que fazem seu treino na academia. Todas as que trabalham na manutenção da sua casa, do seu prédio. As que cozinham. Que cuidam dos seus filhos para você trabalhar em paz.
O mundo sem mulheres acabaria com coisas que ainda são motivo de inconformidade para alguns em pleno 2024. Licença-maternidade, por exemplo. Seria o fim do risco de contratar uma funcionária que depois terá o direito de passar alguns meses cuidando da cria.
Equiparação salarial. Não haveria mais deputadas batendo nessa tecla tão, tão gasta. Aliás, não haveria deputadas. Assédios, abusos, estupros. Não se iluda, eles não terminariam. Já a homofobia ficaria no passado. Por que, né? Havendo só um gênero, seria o fim do preconceito. Arrã. Até parece que alguma coisa na história da humanidade indica um mundo sem preconceitos. Ainda mais povoado só por homens, se me desculpam o preconceito.
Como os homens se reproduziriam? De alguma forma que não envolvesse dor. Minha distopia não chega a tanto, a natureza daria um jeito. Os bebês se criariam soltos e à base de Toddynho. A primeira palavra de todos eles seria Gol.
E ninguém ficaria indignado porque a França incluiu o direito ao aborto na Constituição. Até porque homem, quando não quer filho, simplesmente some. Muito mais prático.
Um mundo sem mulheres. Se você nem considera a possibilidade de uma tragédia dessas, muito obrigada por estar com a gente. Pode agradecer com respeito e reconhecimento a nossa importância na sua vida.
Uma mulher de quem eu gosto, a Katia Suman, inventou uma festa para o público 50+ que adora uma pista, mas que não se anima mais a varar as madrugadas. Baila Comigo, a festa, vai rolar no dia 23 de março, das 19h às 23h, no Ocidente. No outro dia você acorda pronto para a vida. Ingressos no Instagram: @bailacomigo_festa.
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