Passou da hora de acabar com a misoginia e com o falso heroísmo do macho sem coração
Não adianta revolucionar estereótipos historicamente ligados à mulher se os homens continuam habitando as cavernas
Enquanto dois ex-ídolos do futebol eram condenados à prisão por crimes sexuais (fora do estádio também tem juiz e o cartão vermelho é vitalício), me caía em mãos um livro que debate esta questão inadiável: que espécie de “macho” ainda estamos entregando para a sociedade.
Logo conto que livro é este. Antes, o assunto.
Padrões de raça e gênero estão sendo redefinidos. Mulheres negras ocupam posições de destaque, modelos cheinhas desfilam nas passarelas, capas de revista estampam damas grisalhas. A desconstrução do protótipo “loira, magra e jovem” está encaminhada e conquistas começam a ser percebidas. Hoje, quando nasce uma menina na família, já se sabe que ela poderá ser artilheira da seleção, uma cientista da Nasa, presidente do país, especialista em churrasco, ser mãe ou não ser mãe. O que ela quiser, do jeito que quiser. Seu universo expandiu.
Por outro lado, nasce um menino e os pais ficam como? Perplexos. O mundo encolheu para os homens, privilégios estão se perdendo. O que funcionava antes (violência, prepotência) não funciona mais. Os novos homens terão que externar seus sentimentos, conviver de igual para igual com suas parceiras, assumir sua parte nos cuidados com a casa e com os filhos. É um desafio colossal, que põe por terra o que eles tinham como diretriz indiscutível: ser homem é não ser como uma mulher.
Essa insanidade precisa ter fim. “Não quero abraço de macho”, disse um molequinho de três anos a um amiguinho de dois. É chocante. A cena foi testemunhada por Marina Speranza, autora do livro Educar Meninos Não é Frescura.
Marina é brasileira, vive em Barcelona e é mestre em Gênero e Políticas de Igualdade pela Universidade de Valência. Atenta aos descompassos pedagógicos, escreveu um livro leve, rico em referências e com reflexões necessárias para ajudar a sociedade a virar a chave. Os meninos e adolescentes merecem amparo, não podem ser jogados neste novo mundo com uma educação obsoleta e ainda tão agressiva. Tem garoto de 10 anos com gastrite! Por medo de dizer o que sente, medo de desapontar os pais, medo de ser rechaçado pelos outros garotos se não for valentão.
Editoras, olho na Marina. Ela fez nascer esse livro com recursos próprios, tal era a gana de colocar o tema em pauta. Estamos atrasados. Passou da hora de acabar com a misoginia e com o falso heroísmo do macho sem coração. Só assim reduziremos os índices de feminicídio, estupros e outras selvagerias. Não adianta revolucionar estereótipos historicamente ligados à mulher se os homens continuam habitando as cavernas.
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