quinta-feira, 14 de março de 2024


14 DE MARÇO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

A VALORIZAÇÃO DO PRODUTO GAÚCHO

A capacidade de superar adversidades é uma marca indelével do empreendedorismo gaúcho. Uma das provas desta característica é o próprio fato de ter surgido no Estado mais meridional do país um dos principais polos industriais do Brasil. Desde os seus primórdios em séculos passados, a manufatura do Rio Grande do Sul teve de vencer obstáculos como a maior distância em relação aos grandes centros consumidores nacionais - o que sempre impôs desafios logísticos -, o clima inóspito e as turbulências criadas por conflitos internos e guerras.

Ao fim, nenhum percalço conseguiu frear a marcha do desenvolvimento das indústrias gaúchas, conhecidas pelo pioneirismo, pela capacidade da mão de obra e pela qualidade de seus produtos, características que ao longo dos anos levaram dezenas de marcas locais a ganhar reconhecimento nacional e internacional. Esses atributos também fizeram uma série de multinacionais escolher o Estado para se estabelecer no Brasil.

Os tempos são outros, mas a batalha pela competitividade segue sendo travada todos os dias. Diante de novos e antigos entraves conjunturais e estruturais, as indústrias identificam hoje a necessidade de reforçar, em especial no mercado interno brasileiro, as propriedades diferenciadas do que sai das linhas de produção gaúchas. É o que será feito com o movimento Produto RS, capitaneado pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) e lançado na terça-feira. A iniciativa consiste na criação de um selo de qualidade que terá o objetivo de valorizar e atestar as virtudes da manufatura local.

Se os produtos gaúchos dos mais variados segmentos da indústria - dos alimentos à microeletrônica - não tivessem excelência, não teriam conquistado tamanho espaço no Exterior, concorrendo com fornecedores de todos os quadrantes do globo. Hoje, lembra a Fiergs, o Rio Grande do Sul exporta para mais de 160 país. Mas, para a grande maioria das fábricas, o principal destino das vendas é o mercado doméstico. Nada mais adequado, portanto, do que um esforço para amplificar o reconhecimento dos atributos dos produtos industriais gaúchos junto aos clientes de bens de capital, varejistas e consumidores finais do restante do país.

Iniciativas meritórias como essa, se bem- sucedidas, têm o potencial não só de dar novo impulso às fábricas do Rio Grande do Sul, mas de puxar junto os demais segmentos e a própria economia do Estado. O setor industrial, afinal, requer capital humano qualificado, paga na média os melhores salários, tem maior nível de formalização e é grande indutor de inovação e desenvolvimento tecnológico. Mesmo assim, o momento não é dos melhores. No ano passado, por exemplo, o Rio Grande do Sul teve a terceira maior queda (-4,7%) na produção industrial entre as 18 regiões pesquisadas, conforme o IBGE.

O movimento Produto RS merece ter o apoio do poder público e pode se articular com outras iniciativas voltadas a promover o progresso do Estado. O próprio governo gaúcho tem programas que podem ser complementares, como os voltados a que pequenas e médias empresas ampliem as exportações. Outros buscam a atração de investimentos, que é importante para fortalecer cadeias existentes. Há ainda os que se propõem a organizar e fortalecer arranjos produtivos locais (APLs). Ao mesmo tempo, setor público, universidades, sociedade civil e empresas dos mais diversos ramos têm se unido para formar hubs de inovação e consolidar parques tecnológicos. Não é à toa que o Estado se firma como um dos principais celeiros de startups do Brasil.

O fortalecimento da marca Rio Grande do Sul, portanto, vai no sentido correto. Mesmo assim, outros aspectos devem ser observados, como a infraestrutura, a segurança jurídica, a educação para formação de capital humano adequado às novas necessidades do mundo do trabalho e um ambiente de negócios amigável ao empreendedorismo. Em relação a este item, é indispensável que o governo gaúcho e as entidades empresariais consigam dialogar de forma transparente e franca para encontrarem consensos em relação a temas sensíveis para ambos, como a questão tributária.

OPINIÃO DA RBS

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