20 DE MARÇO DE 2024
CARPINEJAR
Nobel da Paz ou reeleição?
Não é culpa da imprensa. Não é culpa da falta de divulgação das obras dos 38 ministérios. A queda de popularidade de Lula se deve a sua personalidade exagerada, folclórica e inflexível. Continua discursando para os seus convertidos, para os seus seguidores.
Dois anos de mandato e o Brasil continua dividido. Se o presidente ganhou a eleição com 50,9% dos votos contra 49,1% de Jair Bolsonaro (PL), atualmente não alterou em quase nada a antiga dicotomia. Os patamares de sua herança e de sua rejeição permanecem intocáveis e estáveis.
Segundo levantamento da pesquisa Genial/Quaest de 2024, 51% dos entrevistados dizem "aprovar" o trabalho do petista, enquanto 46% declaram "desaprovar". Outros 3% não souberam responder. Ou seja, não saímos da cisão do eleitorado de 2022. Lula não conseguiu a proeza de governar para todos.
Ainda que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 tenha crescido 2,9% em relação ao ano anterior e catapultado o Brasil ao posto de nona maior economia do mundo, superando Canadá e Rússia, ainda que a meta de inflação do Banco Central tenha sido atingida, com a taxa de juros anual fixada em 11,75%, não há comunicação com o público conservador e evangélico.
Existe uma insatisfação com os preços de alimentos e combustíveis, que afetam diretamente a vida da população. Nunca foi tão caro comer, a ponto de não se sentir grande diferença entre almoçar em casa ou fora.
A divergência nos bastidores também gera atrito no mercado. Enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defende o déficit zero, Lula prioriza o investimento em políticas públicas, como o Bolsa Família e o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), em detrimento da diminuição da dívida. Gastar mais cria o fantasma da irresponsabilidade fiscal, quem pagará a conta depois?
A dedicação obsessiva do presidente com a política externa - o seu esforço incondicional para se consagrar como um líder internacional, opinando sobre a guerra na Ucrânia ou em Gaza, estabelecendo comparações estapafúrdias para chamar a atenção da mídia estrangeira - não faz sentido diante do genocídio local e silencioso contra o povo yanomami. Lá ele não manda em nada, aqui sim.
Do mesmo modo, as frequentes viagens resultam em escapismo ou omissão com o quadro falimentar da nossa segurança pública. Parece que a diminuição da violência é uma preocupação e uma pauta só da extrema direita. Não vigora um plano de assistência com os Estados para humanização e aparelhamento das forças policiais.
Por último, ele mantém uma agenda intervencionista um tanto anacrônica, como sua intromissão na iniciativa privada, buscando regularizar a situação dos motoristas de aplicativo de acordo com os direitos trabalhistas e previdenciários.
Talvez Lula cobice o prêmio Nobel da Paz, não sua reeleição, porque não está atento aos sinais. Uma vitória de Donald Trump nos Estados Unidos pode virar a gangorra contra ele. Pouco o separa da perda da maioria.
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