15 de marco de 2024
1OPINIÃO DA RBS
ASFIXIA FINANCEIRA CONTRA O CRIME
A luta incansável do Estado para enfraquecer as facções criminosas tem de ir muito além da prisão e da condenação de seus líderes. Mostra-se cada vez mais importante empreender esforços para estrangular financeiramente essas quadrilhas que, ao longo do tempo, também têm aprendido a atuar de forma sofisticada para ocultar o patrimônio amealhado com toda a sorte de ilicitudes.
Essa estratégia outra vez apareceu na Operação Intocáveis-Ultimato, desencadeada na quarta-feira em cidades do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. A ação, capitaneada pelo Departamento de Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil gaúcha, mirou desta vez um braço de uma facção que nasceu e se estruturou na zona norte de Porto Alegre.
Ao apreender bens e bloquear contas bancárias, as forças da lei fazem muito mais do que tomar o produto dos crimes. O dinheiro, afinal, não é usado apenas para fazer com que as lideranças das organizações possam gozar de uma vida luxuosa. Os recursos, em especial os mais líquidos, são utilizados para o financiamento e a preparação de outros crimes.
Acabam empregados na compra de drogas que depois serão revendidas, na aquisição de armas e no auxílio financeiros a comparsas e grupos aliados, inclusive dentro dos presídios. A abertura ou aquisição de negócios de fachada, voltados à lavagem de dinheiro, também se tornou uma prática corriqueira.
A contabilidade da operação impressiona. Foram bloqueadas 59 contas bancárias. Algumas continham somas na casa do milhões de reais. Entre os bens e ativos sequestrados, estão criptomoedas, automóveis, lanchas, motos aquáticas e até uma casa de alto padrão avaliada em R$ 3 milhões, localizada em Canela, na serra gaúcha. Seis imóveis do grupo foram localizados. De acordo com as investigações, o grupo pode ter movimentado nos últimos anos mais de R$ 120 milhões A ação da Polícia Civil também fez duas prisões em flagrante.
O efeito de tomar capital e bens dos bandidos é fazer com que os grupos se debilitem e tenham maior dificuldade de se reorganizar. Sem os recursos, sofrem um duro revés e têm novas ações coibidas. A organização atingida praticava assaltos a bancos. Ao fim, o resultado de operações como a de quarta-feira se reflete em menos violência nas ruas, contribuindo para que os índices de criminalidade continuem regredindo.
Cada vez mais é necessário conhecer as artimanhas financeiras das facções para mapear as formas com que buscam ocultar patrimônio. É um trabalho árduo e que requer paciência. Neste caso, por exemplo, o fio da meada foi puxado a partir da investigação sobre um assalto a banco há dois anos, na Capital. O êxito de uma ação como essa, portanto, depende de um meticuloso trabalho de investigação e inteligência e da convicção de que sufocar financeiramente as facções é a chave para desarticulá-las.
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