segunda-feira, 1 de junho de 2020


01 DE JUNHO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

A RESILIÊNCIADO CAMPO


Em meio à freada brusca do consumo e dos negócios no mundo causada pela chegada do coronavírus, há um setor que não parou e, pelo contrário, segue mostrando um desempenho acima da média dos demais segmentos da economia. É o agronegócio brasileiro, que, no primeiro quadrimestre de 2020, na contramão do encolhimento generalizado, elevou em 5,9% as exportações na comparação com igual período do ano passado, chegando a US$ 31,4 bilhões. A razão, mais uma vez, é o apetite chinês por soja e carnes. O cenário se repetiu no Rio Grande do Sul. De janeiro a abril, os embarques do grão cresceram 34% e, no caso da proteína animal, 61%.

Com as incertezas rondando a indústria, o comércio, o serviços e os investimentos em infraestrutura, a força e a resiliência do campo devem mais uma vez servir como um colchão a amortecer o impacto da crise no país. É sintomático que, também no primeiro quadrimestre do ano, foi o único setor a ter saldo positivo em postos de trabalho formais, criando 10 mil empregos com carteira assinada, conforme os dados do Caged. Enquanto se espera uma forte queda do PIB nacional neste ano, o Valor Bruto da Produção Agropecuária em 2020 deve subir 8% e chegar a R$ 697 bilhões, projeta a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Na sexta-feira, essa tendência ganhou reforço com a divulgação de que o agronegócio brasileiro cresceu, no primeiro trimestre, 0,6% em relação aos três últimos meses do ano passado, sendo o único setor com PIB positivo no país.

Para o Estado, apesar dos bons indicadores dos primeiros meses nas exportações, as perspectivas infelizmente não são tão animadoras, pela seca que dizimou metade da safra de soja, carro-chefe das lavouras gaúchas. A falta de chuva, porém, é um fenômeno ocasional e não tira as perspectivas que seguem animadoras para o agronegócio do Rio Grande do Sul no médio e longo prazos, um atividade que, nos anos mais duros da última recessão, impediu, com colheitas fartas, uma queda ainda mais acentuada do PIB do Estado.

O mundo seguirá, nos próximos anos, demandando alimento. E o Rio Grande do Sul e o Brasil permanecerão como celeiros estáveis, a fornecer quantidade e qualidade. O Estado, porém, ainda tem espaço para conquistar com a agregação de valor a produtos de atributos reconhecidos na agricultura e na pecuária. Uma marca que indicasse a procedência de itens do agronegócio do Rio Grande do Sul e funcionasse como uma espécie de certificação adicional poderia assegurar uma diferenciação que inclusive afastasse possíveis reveses aos negócios ocasionados pela crescente má imagem brasileira no Exterior causada pelo comportamento do governo na questão ambiental, na qual se mostra conivente com a degradação da natureza. As notícias mais recentes infelizmente apontam que o Brasil vai voltar a ganhar as manchetes internacionais de forma negativa devido a desmatamento e queimadas na Amazônia promovidos principalmente por madeireiros ilegais e garimpos clandestinos. Por mais que possam existir exageros eventuais, não se pode dizer que a condenação planetária, com o risco de embargos, não tem respaldo na realidade.

Os agropecuaristas gaúchos, de tradição afirmada e de competência reconhecida, que nada têm a ver com essa postura execrável, não podem pagar por um erro que não é seu. É preciso trabalhar para que esse estigma fique distante da produção do Estado.

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