13 DE MAIO DE 2020
INFORME ESPECIAL
Como Mourão está salvando Bolsonaro
Alguns dos principais adversários de Bolsonaro da disputa eleitoral de 2022 não demonstram entusiasmo pela ideia do afastamento do presidente. O governador de São Paulo, João Doria, disse que esse é um assunto para o Congresso e, assim, se distanciou do debate.
Mais do que uma visão de país, Doria se move pela lógica da conveniência política: quanto mais desgastado o adversário, melhor. Desgastado não é o mesmo que descartado. Chegar a 2022 com o presidente politicamente moribundo é o melhor dos quadros para quem deseja derrotá-lo. Até Lula tirou o pé, por enquanto, do apoio ao impeachment. E a necessidade de foco no combate ao coronavírus, lembrada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é real, mas não diz tudo.
O aspecto decisivo a ser levado em conta nessa análise é o perfil do vice-presidente, Hamilton Mourão, que assumiria se Bolsonaro caísse. É bem provável que, caso isso ocorra, Mourão acalme o país, construa um governo de conciliação, devolva a confiança aos investidores e, com isso, chegue a 2022 como um candidato imbatível, hipótese que não interessa aos demais postulantes ao cargo.
Vale lembrar que, apesar de ser à época bem menos popular do que Mourão é hoje, Michel Temer prometeu, antes do impeachment de Dilma Rousseff, não se candidatar em 2018. Mais do que uma promessa, foi uma condição, por exemplo, para receber o apoio do então pré-candidatíssimo tucano Aécio Neves e de todo o PSDB. Os caminhos da política são tortuosos e a dinâmica, muitas vezes, imprevisível. Mas não é exagero afirmar que, se tivesse um vice inexpressivo e sem potencial eleitoral, Bolsonaro estaria bem mais perto do fim.
TULIO MILMAN
Nenhum comentário:
Postar um comentário