05 DE MARÇO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
O ALERTA QUE VEM DO PIB
A nova frustração com o crescimento da economia brasileira precisa fazer o governo federal, em especial o presidente Jair Bolsonaro, finalmente despertar para o papel do Executivo na construção de um ambiente mais fecundo para uma retomada robusta da atividade. E não se trata de qualquer medida ou plano mirabolante. O avanço medíocre do PIB de 1,1% em 2019 foi inferior aos dos dois últimos anos e menos da metade do esperado no início do mandato de Bolsonaro. Mais esta decepção mostra que o Planalto precisa, urgentemente, colaborar para um resgate mais firme da confiança dos agentes econômicos e, assim, recuperar a credibilidade necessária para o ressurgimento dos investimentos internos e externos que façam a roda do desenvolvimento voltar a girar.
É imperiosa uma mudança de postura do Planalto. Polêmicas estéreis, manobras diversionistas e a atenção do presidente a temas secundários, em vez de centrar foco nos problemas reais do país, passam a impressão de que a figura que ocupa o mais alto posto da República e seu núcleo ideológico vivem em uma espécie de realidade paralela, deixando de mostrar interesse e se esforçar para a aprovação das reformas essenciais para o país. Apesar de reiteradas promessas desde o ano passado, o governo ainda não enviou para o Congresso sua proposta de reforma administrativa. Em relação à tributária, outra prioridade, o Executivo foi simplesmente alijado das discussões, que passaram a ser assunto sob o domínio do Congresso.
Os constantes sobressaltos e atritos desnecessários com outros poderes muitas vezes acabam por minar o bom andamento de projetos elaborados no Ministério da Economia, uma das ilhas de excelência do governo, de resto rodeadas pelo mar revolto da guerra ideológica que não cria um emprego sequer. Pelo contrário. O discurso ambiental enviesado, outro exemplo, aumenta a desconfiança internacional em relação ao Brasil, que assim vê ameaçada a chegada de capital que seria imprescindível para investimentos produtivos e em infraestrutura.
É inegável que fatores externos como a guerra comercial entre China e EUA e a crise argentina afetaram a economia brasileira. Por outro lado, sabia-se desde o final de 2018 que o maior potencial de crescimento da economia brasileira em 2019 viria do mercado interno. Muito das expectativas positivas de empresários e consumidores estava ancorado no encaminhamento e na aprovação de reformas. Mas pouco do prometido foi entregue, incluindo abertura comercial e privatizações.
Um novo fator a preocupar o mundo agora é o coronavírus, que afetou drasticamente a economia chinesa e as cadeias globais de fornecimento de insumos e mercadorias. A epidemia se espalha rápido por outros países, fazendo com que o estrago também se alastre. O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, sentenciou no início da semana que a melhor vacina contra os danos do vírus é o avanço das reformas. Gestos simples de Bolsonaro, repensando o tom beligerante, seriam um bom começo para que a agenda consiga avançar o possível no Congresso antes do segundo semestre, quando Brasília se esvazia devido às eleições municipais. Algo de positivo poderá ser extraído do pibinho de 2019 se o desapontamento servir ao menos para o presidente compreender a gravidade da situação e seu papel como chefe do Executivo. Caso contrário, o Brasil poderá estar condenado a mais uma frustração em 2020.
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