sábado, 6 de julho de 2019


06 DE JULHO DE 2019
ARTIGO

MUDOS, POR QUÊ?


Tudo o que seja "estranho" e "inexplicável", quase sempre, encobre alguma sordidez ou maldade disfarçada. Cabe encontrar o disfarce e saber por que surgiu, ou visando ao quê.

No longo debate em torno da CEEE ("sim à privatização" ou "não à privatização") o estranho foi o silêncio generalizado em torno do grande assalto que, em 1987, no governo Pedro Simon, devastou a empresa que fora modelo de gestão e eficiência. Nosso escândalo provinciano é maior do que a orgia do "mensalão". Em valores atuais, vai a mais de R$ 1 bilhão. Na época, acariciou diferentes círculos do governo com propinas de 12 grandes empresas (várias delas, rés na Lava-Jato) e, neste século 21, serviu de "modelo" para assaltar a Petrobras.

O processo judicial, iniciado em 1996, corre ainda "em segredo e Justiça" na 2ª Vara da Fazenda, em nosso Alegre Porto. Até hoje não há sentença nem qualquer alegria.

Um silêncio total encobre a fraude. Nos três poderes do Estado, todos são mudos, como se nada existisse. Ou como se recuperar R$ 1 bilhão não fosse fundamental num momento em que a politicalha transformou a antes eficiente CEEE num traste velho, com ferrugem e cupim.

A fraude envolveu dois milionários contratos de equipamento e obras em 11 subestações da CEEE, assinados em ato solene no Piratini em 1987, como "a recuperação do Estado". Sete anos depois, a então secretária de Energia, Dilma Rousseff, descobriu o roubo: as licitações eram "acertadas entre as empresas", sem determinação da obra, terreno ou projeto a executar.

Logo, uma CPI do Legislativo esmiuçou tudo. Lindomar Rigotto, assistente da direção da CEEE, apareceu entre os dois principais envolvidos. Seu irmão Germano Rigotto, do PMDB, na época líder governista na Assembleia, afirma não ter interferido para nomeá-lo. O então presidente da CEEE, Osvaldo Baumgarten, se disse "traído" por Lindomar e pelo diretor financeiro Silvino Marcon e contou que quis demiti-los, sem conseguir.

O inexplicável já tinha rosto. Por que, então, há muito, todos são mudos e cegos nessa roubalheira? A Justiça não julga. O Legislativo não fala. O atual governador, Leite, nada fez para recuperar o roubado. Imitou seus antecessores Simon, Brito, Olívio, Germano Rigotto, Yeda, Tarso e Sartori. A exceção foi Collares, que deu poderes a Dilma para investigar o horror.

Horror? Sim, pois há sangue de permeio. Lindomar jamais foi condenado.

Morreu anos depois, com um tiro certeiro. Por que continuar mudos? 

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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