25 DE JUNHO DE 2019
DAVID COIMBRA
Eles não comem carboidratos
Eu agora como ovo no café da manhã. Culpa da Marcinha. Ela entrou nessa história de regular os carboidratos, inseriu ovos no breakfast e acabei me afeiçoando pela coisa.
Quem a incentivou a fazer esse regime foi o irmão dela, o Guilherme. O Guilherme se preocupa muito com a saúde, a alimentação e tal. Ele não come espaguete, ele ingere carboidratos. Ele não bebe água, ele se hidrata. No churrasco, mastigando uma picanha, o Guilherme comenta:
- O consumo de proteínas faz bem para reparar o tecido muscular.
Um primo dele, o Rick, é igual. Você tinha de assistir a uma conversa dos dois. Um dia, vi o Rick perguntando para o Guilherme:
- Como está o teu nível de ácido úrico?
E o Guilherme sabia!
Então, com fartura de dados, ele convenceu a Marcinha a reduzir drasticamente os carboidratos.
Quero informar que não aderi a tamanha loucura. Sou um amante da comida italiana, das massas, dos pães e até, por que não?, da lasanha. Mas um ovo na primeira hora do dia me apetece. Vi na internet um médico dizendo que o ovo tem tudo de que necessita a vida, tanto que, dele, sai um pinto. Achei um argumento irrefutável.
Ovo é alimento nobre. O príncipe Charles gosta de comer um depois das caçadas. No caso, cozido. Mas o príncipe é extremamente exigente quanto ao ponto de cozimento do ovo. Ele se irrita quando a gema ou a clara não estão perfeitas. Assim, para não errar, a cozinha do palácio prepara sete ovos, acomoda-os em tacinhas de prata, numera-os e os enfileira em frente a colherinhas especiais. O príncipe chega, vai no primeiro, quebra-lhe a casca e experimenta:
- Não. Esse não. Vai no segundo, repete o processo, e:
- Definitivamente, não. Mas, de repente, Charles se encontra com o ovo ideal, devora-o com sofreguidão e suspira:
- Com efeito? deveras? That is the egg!
Se eu trabalhasse na cozinha do palácio, saberia preparar o ovo impecável: ele tem de ferver por dois minutos e cinquenta segundos, não mais, não menos. Tente, e você provará o manjar de um príncipe.
Mas o ovo que agora como pela manhã não é cozido, é frito. E nem é um, são dois. Era o que queria contar para você. Não é para me gabar (ou talvez seja), mas alcancei uma acurácia na fritura do ovo que me enche de orgulho. Nada da clara (eu disse: NADA) fica líquido. Nada da gema (eu disse: NADA) fica sólido. E as bordas desprendem-se da frigideira douradas, nunca negras. O sal, eu o distribuo com equanimidade, sem excesso ou escassez. E, às vezes, quando acordo com o espírito mais requintado, salpico um pouco de pimenta-do-reino na branca clara.
Há duas formas de fazer esse ovo. A tradicional, com óleo ou manteiga, e uma a que me dedico nos finais de semana, por dispor de mais tempo. Essa, não é para me exibir (ou talvez seja), aprendi num café de Nova York. É assim: deito finas fatias de bacon na frigideira e as frito em fogo baixo. A parte branca do bacon, a gordura, exsudará com o calor. É nesse óleo que fritarei os ovos. Mas não todo.
Ah, não! Retiro a maior parte com uma colher e jogo fora sem pena. Esse processo é lento, mas os resultados compensam. O ovo ganha outro sabor e o bacon que resta, crocante e cheiroso, vai para a mesa. Depois, você pode acrescentar lâminas de queijo gouda ou, algo que só se faz fora do Brasil, tiras de abacate. Sim, sei que os brasileiros se escandalizam se o abacate não vem amassadinho e temperado com açúcar, eu mesmo repilo o abacate na salada, mas a combinação com ovo, creia, funciona.
Eis, pois, uma nova modalidade de desjejum para você, faminto leitor. Prepare o café preto e delicie-se. Você levantará da mesa alimentado, feliz e magro. Ah, nós magros também sabemos viver bem.
DAVID COIMBRA
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