08 DE JUNHO DE 2019
MÁRIO CORSO
Síndrome do Impostor
"Um dia alguém vai me desmascarar. Todos saberão que sou uma fraude, que sei menos do que deveria, que não tenho talento. Eu sou um blefe que deu certo."
Quem se identificou com o parágrafo anterior sofre da síndrome do impostor. Caso você seja um desses, permanentemente acossado pela ideia de ser descoberto, tenho três boas notícias.
Primeiro: se serve de consolo, isso é mais comum do que se imagina. Você não está sozinho, dá para fundar um clube.
Segundo: geralmente quem sofre com essas dúvidas não é um impostor. Aquele que não está à altura de um cargo ou missão raramente desconfia que não agrada. Vocês já devem ter visto a surpresa com que algumas pessoas são tomadas quando levam um fora, ou são despedidas, ou ainda recebem uma advertência. O susto é genuíno, pois não percebiam a dissonância entre o que valem e o que imaginam valer.
Terceiro: essa inquietude está mais ligada a pessoas inteligentes. Os que sentem-se confiantes tendem a ser mais limitados. Pessoas complexas, com um repertório de experiências rico, com alguma teorização sobre o que fazem, são mais inseguras por perceberem a possibilidade de múltiplas leituras, logo, a delas seria só mais uma.
Geralmente encontramos os casos de síndrome do impostor quando o sujeito ocupa uma posição que socialmente não é esperada. Do tipo: mulheres em chefias, onde o comum são homens; negros com destaque em ambientes dominados por brancos; jovens talentosos que ascenderam, mas trabalham cercados de velhas raposas. Ou seja, o olhar externo que condiciona os lugares ainda pesa sobre os recém-chegados.
Portanto, caro sindrômico, você é apenas um sujeito contemporâneo, inseguro, não por defeito de autonomia, mas por contemplar que a dúvida nos é inerente. Você percebe o mundo como plural e tem uma exigência dura quando avalia a si e ao resto. Sofre por ter autocrítica em excesso e fazer disso uma neurose, mas o contrário é pior. Não por acaso, no deterioro cerebral e na loucura, a incapacidade de fazer uma autoavaliação sobre as próprias capacidades é o primeiro sintoma de que algo não vai bem.
O fato é que amamos as pessoas seguras. Elas nos passam confiança, facilmente lhes damos crédito para que nos guiem. Claro, nem toda pessoa segura é simplória, mas toda pessoa de raciocínio simples arranja mais seguidores. Dá para fazer metáfora com a "cabeça oca": nos espaços vazios, as parcas ideias fazem mais barulho. Não tem muita coisa lá dentro, então ressoam com mais força as palavras vindas do cérebro unidimensional.
O problema é que não adianta tentar simplificar a realidade no grito, a vida segue enigmática e instigante. Nos resta aprender a enxergar a sabedoria em quem duvida e não nos profetas da certeza.
MÁRIO CORSO
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