segunda-feira, 10 de junho de 2019



10 DE JUNHO DE 2019
+ ECONOMIA


"Torço para que seja só uma década perdida"


ENTREVISTA | Marcos Lisboa, Economista e presidente do Insper. Uma das vozes mais respeitadas no debate econômico nacional, Marcos Lisboa observa que o governo federal precisa de foco na agenda fiscal para tentar tirar o país da "encrenca em que se meteu". Nesta entrevista, o presidente do Insper avalia os impactos de mais uma "década perdida" no Brasil, marcada pela fraca retomada após a recessão.

Há estimativas de que a reforma da Previdência gere economia de R$ 600 bilhões a R$ 800 bilhões em 10 anos, abaixo da prevista pelo governo. É suficiente?

Mesmo com a reforma de mais de R$ 1 trilhão, o governo vai ter de fazer mais ajustes. Vai continuar faltando dinheiro para muita coisa. O mais importante é começar com a Previdência para interromper o crescimento do gasto.

O que levou Estados como o RS ao atual quadro fiscal?

Os Estados estão nesta situação devido a reajustes salariais elevados, muita contratação de gente e conivência com regras que permitem aposentadorias precoces. O que se fez foi adotar medidas paliativas. O Rio Grande do Sul teve o uso de depósitos judiciais para pagar despesa. É como morfina para doente com câncer. Tira a dor, mas a doença progride. O governador (Eduardo Leite) e a Assembleia estão mostrando que, com clareza e diálogo, é possível enfrentar os problemas.

O governador passou a admitir o uso de recursos de privatizações para custeio da máquina pública. O que isso significaria?

Acho que o governador está fazendo o possível. Tem de levar em conta que a crise do Rio Grande do Sul foi cuidadosamente construída há mais de duas décadas. A degradação da economia por decisões erradas nas finanças públicas se manifesta lentamente. A má notícia é que corrigir o descalabro também é algo lento.

O Banco Central errar na política monetária é sério, mas pode ser rapidamente corrigido. Quando voltei ao Insper, há seis anos, comentei minha preocupação com o fato de que o governo Dilma Rousseff estava parecendo o governo Ernesto Geisel, investindo onde não devia, errando na política fiscal. Meu temor era de estarmos entrando em uma década perdida. Na época do governo Geisel, foi pouco mais de uma. Agora, torço para que seja só uma década perdida.

Como você descreve o atual momento na economia?

Degradamos integralmente o ambiente de negócios no Brasil. Com crise fiscal, reajuste salarial, gastos elevados e subsídios, os governos começaram a aumentar tributo para não entrar em colapso total. A parte tributária do Brasil está disfuncional há vários anos. O setor privado está acuado pela questão tributária. Achamos que, para crescer, seria preciso estimular o investimento e proteger a produção nacional. Foi isso que o governo Dilma fez, e deu completamente errado. Acabamos produzindo o que não sabemos fazer direito.

Há algo que pode ser feito para gerar estímulo à economia?

É preciso desfazer o que fizemos na última década. Vai ser um processo longo, mas dá para começar a abrir a economia de novo, não com agenda liberal extremada. É acertar o sistema tributário. Quanto mais clareza o governo tiver em uma agenda com foco no que é primordial, sem perder tempo com confete, melhor. A impressão é de que tem gente que não entendeu o tamanho da encrenca em que o Brasil se meteu.



MARTA SFREDO

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