22 DE JUNHO DE 2019
CARPINEJAR
A inveja separa os casais ou é folclore?
O olho gordo existe e se empanturra das vidas alheias. Mas a inveja destrói relações não devido a falar demais daquele que se ama, como se acredita, e sim por falar TUDO, tudinho, sem filtro, sem censura, sem proporção, sem ponderar durante um dia, expondo implicâncias desnecessárias, despejando sentimentos com a espuma da raiva antes de uma conversa a sós, olho no olho.
A ausência de cuidado mata a intimidade, ao expor o que é ruim com a mesma facilidade daquilo que é bom. Se o casal não cuida do amor público, o amor privado fica enfraquecido. A fofoca não é resultado da visibilidade nas redes sociais, não é porque você posta fotos toda hora das gargalhadas e beijos que as pessoas começam a ter ciúme de sua felicidade. Parte de você mesmo, da falta de discernimento do que é relevante mostrar do namoro, e por não saber guardar as próprias dúvidas enquanto ainda são meras impressões.
Na euforia, esbanja posts românticos de agradecimento. Igualmente, quando se vê descontente com alguma situação específica e pontual da rotina, despeja veneno contra a parceria.
Pequenas rusgas e atritos naturais acabam visíveis na enxurrada online, não preservando a privacidade da convivência. Joga o seu namorado ou a namorada para o tribunal público, desprovido de advogado, cristalizando para sempre um mal-estar momentâneo.
Não são as boas notícias que despertam a cobiça, porém as más notícias dissimuladas na incontinência da sinceridade.
Ser sincero não é dizer exatamente o que se pensa (pensamos também tantas bobagens), significa ser justo.
A rachadura dos elos vem da abertura de uma simples fresta de descontentamento. A partir de uma observação inócua, "a minha namorada não é romântica" ou "ele só vive jogando futebol", os seguidores já criam caso e interrogam o que anda acontecendo. Uma reclamação a seu parceiro e a sua parceira online gera a suspeita de separação. A convivência é interditada pelas intrigas.
Deixar de seguir de repente o seu par ajuda a piorar o monitoramento do mal. Em vez de resolver os problemas na solidão de casa, o que seria o ideal, o casal começa a disparar indiretas em comentários, permitindo a transposição em tempo real de suas brigas. As diferenças viram divergências, com todo mundo no meio palpitando.
Uma bobagem torna-se debate para ter ou não razão. Deflagra-se um linchamento virtual de uma das partes porque aquilo que fez ou deixou de fazer a dois. Não há nem como se defender. Rompe-se a admiração e dá a chance de qualquer um criticar o seu companheiro e companheira. O olho gordo nunca parte dos outros, mas das traves que já obstruíam os nossos olhos.
CARPINEJAR
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