11 DE JUNHO DE 2019
CARLOS GERBASE
APENAS FITAS
Anthony Russo, Joe Russo, Anna Boden, Ryan Fleck, Susana Garcia, Rich Moore, Phil Johnston, Dean DeBlois, David F. Sandberg, James Wan, Peter Ramsey, Bob Persichetti, Rodney Rothman, Tim Burton, Júlia Rezende. Estes são os diretores de cinema de maior sucesso de bilheteria no Brasil no ano de 2019. São os mais mais. Por favor, releia essa lista atentamente e agora marque os cineastas que você conhece e admira.
Eu fiz isso e só consegui assinalar Tim Burton. Se, em vez de destacar os nomes, eu tivesse colocado os títulos de suas obras, você provavelmente conheceria todos. Quanto à admiração, mesmo que você não goste de um ou outro, as bilheterias milionárias são prova irrefutável de que os filmes foram muito bem recebidos. Sucesso, sem dúvida.
Há outras reflexões possíveis a partir da lista. A primeira considero positiva, pois há três mulheres: Anna Boden, Susana Garcia e Júlia Rezende, sendo que as duas últimas são brasileiras. Boa notícia no mundo historicamente machista do cinema. A segunda me causou espanto: são 15 diretores para 10 filmes.
Três fitas (sei que o termo é antiquado, usado por velhos distribuidores e exibidores, mas julgo adequado para o contexto desta crônica) tiveram codireções, e uma teve direção tripla. As quatro são de Hollywood, que parece estar apostando na repartição da responsabilidade - e, consequentemente na diluição da autoria - em suas superproduções. É perigoso gastar dezenas de milhões de dólares e ficar dependendo das idiossincrasias de um único autor. Diretores servem para garantir a qualidade estética e a fluidez narrativa do filme. O resto é puro negócio.
A terceira é que o Brasil está copiando, com sucesso, o modelo de diversão impessoal e anódina de Hollywood. As fitas nacionais certamente têm seus predicados, mas a pretensão autoral não é um deles. Por último, me fiz uma pergunta: a quantos desses 10 filmes eu assisti?
A resposta é: nenhum. Só me arrependo de não ter visto Dumbo (por ser de Burton) e Aranhaverso (pelas indicações positivas de amigos). Prefiro esperar que Stanley Kubrick ou Nelson Pereira dos Santos ressuscitem do que entrar numa sala de cinema para ver esse triste e interminável desfile de filmes sem autor. Ou melhor, de fitas. Apenas fitas.
CARLOS GERBASE
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