10 DE JUNHO DE 2019
OPINIÃO DA RBS
OPINIÃO DA RBS | ARTIGO
Impasse no Salgado Filho. Se o próprio poder concedente atesta que a responsabilidade da Fraport se limita à desocupação das áreas, causa estranheza a recomendação apresentada por MPF e DPU
Émotivo de apreensão o impasse que veio a público na semana passada envolvendo a Fraport de um lado e, de outro, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU), em torno das responsabilidades relacionadas à realocação das famílias que vivem no entorno da cabeceira da pista do aeroporto Salgado Filho.
O risco do desacerto é de um prejuízo para a economia do Estado, que há mais de duas décadas espera o prolongamento da estrutura do terminal gaúcho. E, para completar, aumenta a insegurança jurídica de quem possa cogitar investir no Rio Grande do Sul, pelo temor de, a qualquer momento, ser envolvido em uma imprevista disputa nos tribunais, discutindo uma questão inexistente no momento da assinatura dos documentos.
A concessionária alemã assumiu o Salgado Filho no início do ano passado. Há dois meses, entregou a expansão e as melhorias no terminal 1. Vale lembrar que, quando o aeroporto ainda tinha a administração da Infraero, essa foi uma obra que iniciou em 2013 e, cinco anos depois, ficou longe de ser concluída. Acabou tendo de ser demolida. Imprimindo ritmo acelerado às obras previstas no contrato de concessão, no início do mês a empresa disponibilizou um novo edifício-garagem, como mais mil novas vagas para os usuários.
Se o próprio poder concedente - em posicionamento apresentado pela Secretaria do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e pela Secretaria de Aviação Civil (SAC), e ainda reforçado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) - atesta que a responsabilidade da Fraport se limita à desocupação das áreas, causa estranheza a interpretação do MPF e da DPU de que a concessionária deveria desembolsar mais R$ 146 milhões e ter a obrigação de reassentar as famílias. Em qualquer lugar do mundo, o respeito aos contratos é base para a criação de ambiente econômico saudável. O contrário costuma ser desastroso.
Por mais bem-intencionada que seja a recomendação dos dois órgãos para que a Fraport se encarregue da tarefa, é uma intervenção que, por enquanto, parece ter dois desdobramentos possíveis: atrasar a ampliação da pista e espantar investidores do Rio Grande do Sul, Estado no qual fazer negócios com alguma interface com o poder público é sinônimo de maratona burocrática, contratempos causados por voluntarismos e ameaça de entraves judiciais de toda ordem.
A extensão atual da pista do Salgado Filho limita a operação de aeronaves de carga maiores. O resultado é que uma mínima parte das exportações aéreas do Estado sai pelo aeroporto gaúcho. A maioria decola por terminais paulistas. Os prejuízos são generalizados. Atividades associadas às vendas para o Exterior deixam de ser feitas no Rio Grande Sul. As empresas têm o custo adicional do transporte rodoviário para São Paulo, o que tira agilidade e competitividade. Seria uma era que terminaria em 2021, com a entrega da obra. Espera-se que não demore mais.
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É PRECISO INVESTIR NAS HUMANIDADES
IR. CELASSI DALPIAZ
Diretora do Colégio Santa Inês
celassi@santainesrs.com.br
Em tempos obscuros, em que temos o compromisso de reconstruir a pessoa na inteireza do ser, discutem-se e polemizam-se questões que retardam, ainda mais, os processos de pensar, transformar e aprender. Nosso papel, enquanto educadores, além de desenvolver competências e habilidades que envolvem o conhecimento tradicional, é ultrapassar o óbvio e nos inspirar em valores e humanidades que possibilitam a formação de homens e mulheres pensantes com capacidade de discernir e transformar.
Tendo presentes esses princípios, não basta que os estudantes saibam resolver cálculos sem entenderem o impacto dos números na vida, nem ler sem interpretar o mundo e suas nuances, permeadas de fronteiras excludentes.
Hoje, vivemos num tempo privilegiado com tecnologias e nos conectamos com o mundo em tempo real. Entretanto, vivemos uma escassez de afeto, tornando nossas crianças e jovens nos ditos "mendigos emocionais", que imploram por aprovação, carinho, reconhecimento e um direcionamento que possa lhes dar ou devolver o sentido da vida.
Em vista deste contexto, penso não ser suficiente apenas a preocupação com o cognitivo, embora seja fundamental, pois a libertação de uma nação se dará pelo conhecimento dos seus membros. Conectados a isso, precisamos pensar na humanização desse conhecimento para que sejamos capazes de formar cidadãos com capacidade transformadora e integradora. É preciso que os sujeitos possam ver-se dotados de possibilidades e recursos tanto intelectuais quanto emocionais para mudanças.
Como não nos preocuparmos com tantos sinais que necessitam de uma ação urgente? Onde precisamos formar sujeitos que possam sentir-se gente para respeitar gente? As humanidades são grandes aliadas para formar seres integrados que sentem, pensam e, acima de tudo, têm autoconhecimento e capacidade de gerenciar a vida na dimensão mais profunda da inteireza do ser e empatia para colocar-se no lugar do outro. Não queremos entregar à sociedade "mendigos emocionais", que tenham de apresentar sintomas para que os olhemos e os formemos na sua integralidade.
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