17 DE JUNHO DE 2019
+ ECONOMIA
GROSSERIA NA SAÍDA COMPLICA SUCESSÃO
A figura da usina de crises usada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para descrever o governo, surgiu na sexta-feira passada, antes da saída do presidente do BNDES, Joaquim Levy. No sábado, a certeza da queda era tanta como ficar no cargo depois de ter a cabeça pedida em praça pública? que começaram as especulações sobre a substituição. Os mais citados são Gustavo Franco, indicado para presidir o conselho de administração do BNDES, e Salim Mattar, secretário de Desestatização do Ministério da Economia.
São duas apostas óbvias, mas cercadas de dificuldades. Franco é conhecido por seu pavio curto. É um risco ficar na mira de um governante, que, como a Rainha de Copas, personagem de Alice no País das Maravilhas, grita diante de discordâncias: "Cortem-lhe a cabeça!". Fez isso com o general Santos Cruz, na Secretaria-Geral de Governo, e o presidente do Correios, o também general Juarez Cunha, demitido em um café da manhã com jornalistas. Mattar tenta pôr em pé um plano de privatizações que só avançou nos casos preparados no governo Temer.
E Guedes saiu chamuscado da usina de crises. Ao dizer, dirigindo-se a Levy, "demite esse cara (o diretor de Mercado de Capitais do BNDES, Marcos Barbosa Pinto) na segunda ou eu demito você sem passar pelo Paulo Guedes", Bolsonaro não só ejetou o presidente do BNDES da cadeira, mas deixou bamba a do ministro, que disse entender a "angústia" do chefe com a indicação de "pessoas ligadas ao PT". Barbosa Pinto compôs a diretoria do BNDES na gestão de Demian Fiocca, ligado ao ex-ministro Guido Mantega. Mas não é "ligado ao PT": foi sócio de Armínio Fraga na Gávea.
A indicação de Levy para a presidência do BNDES havia sido um alívio, por reforçar o núcleo racional do governo. Sua saída, portanto, é uma perda. E com um presidente que se parece a personagens pouco equilibrados de ficção, será difícil encontrar alguém para ocupar cadeira da qual poderá ser ejetado em público.
Em um grupo de debates entre economistas com estofo para cargos públicos federais, há um consenso: ninguém "respeitável" deveria aceitar o BNDES depois da "desconsideração". Em um tuíte, o cientista político Murillo de Aragão, cotado para assumir a Embaixada do Brasil em Washington, observou:
- Existem maneiras e maneiras de demitir. Uma é pedir, por meio de um interlocutor, que o digníssimo peça para sair. Seria mais tranquilo para o país e com menos risco para a imagem do governo.
MARTA SFREDO
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