19 DE JUNHO DE 2019
+ ECONOMIA
CAIXA-PRETA É "BUSCA INSANA"
Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do BNDES. Pioneiro da doutrina liberal no Brasil, Paulo Rabello de Castro (foto) foi presidente do BNDES no governo Michel Temer e é um duro crítico das gestões petistas. Em sua gestão, relata, fez devassa nos empréstimos para ter certeza de que não havia ameaça à instituição - Rabello fundou a primeira agência brasileira de classificação de risco. Diante da insistência do governo Bolsonaro em "abrir a caixa-preta do BNDES", focando em operações feitas em Cuba e na Venezuela, avisa que será "uma busca inútil".
CAIXA-PRETA
"Deflagrei uma operação no departamento de economia, não era para fazer auditoria de determinados clientes, porque essa já estava em curso por iniciativa de Maria Sílvia (Bastos Marques, antecessora de Rabello no cargo), já não tinha mais o que fazer. Foram concluídas, nada apuraram, foram articuladas e realizadas pela corregedoria da casa. Então, vasculhar, remexer, olhar as gavetas e debaixo da cama, tudo isso foi visto e revisto.
Agora, é busca insana sobre coisa nenhuma. Estamos buscando o cálice do Santo Graal (cálice que teria sido usado por Jesus Cristo na última ceia com os apóstolos, relíquia lendária) ao contrário. É como um filme do Indiana Jones, só que já encheu o saco. Não estou sendo exagerado. O BNDES é a maior banca de advogados do país, tem 400 profissionais do Direito lá dentro. Tudo é documentado em contratos, seguem a legislação da Constituição para baixo e depois todas as políticas internas do banco.Nada acontece, nem um parafuso sai do lugar se não estiver política de ação do BNDES, que depende da política de governo."
O DESEJO DE BOLSONARO
"Vai saber o que aquela cabecinha pensa? Para mim, não pensa nada. É um cara muito mais esperto do que eu e você juntos, é um sobrevivente da terceira guerra mundial, quando só sobraram certos guerreiros. É um cara que está há 30 anos dando e levando botinada. Para ele, esse assunto é mais uma botinada. Não pode estar tão interessado assim no BNDES, o interesse é no discurso político, três palavras que mexem com os nervos da população: Cuba, Venezuela e mais uma ou duas ameaças desse tipo.
Vai lá atrás nos arquétipos do anticomunismo, da tragédia de um país. É como ele ameaça. E o BNDES teria sido um agente de aproximação desse eixo do mal, não um cliente que, por acaso, tinha uma forma de governo à esquerda."
CUBA E VENEZUELA
"Não existe, Cuba não pode vir aqui pedir um empréstimo. A aprovação é para uma obra, para exportação de serviços em que,empresas do Brasil com CNPJ brasileiro exportam produtos, como guindastes e tratores, mais o serviço de engenharia. Todo e qualquer centavo que sai do BNDES é para notas fiscais desses produtos e desses serviços. Ou seja, 100% geração de emprego made in Brasil. É irrelevante se você vende a cama para convento, hotel ou casa de tolerância. E a venda da cama é segurada, então o financiador recebe, mesmo quando o pagante atrasa. É um erro total dizer que o BNDES vai ter prejuízo, nem 1% dessas operações são descuradas."
O NOVO PRESIDENTE
"É claro que o rapaz tem o benefício da juventude, uma mistura de audácia com inexperiência. É adequado para o tipo de responsabilidade que ele assumiu. Tem de ser o arauto de quem não está botando o próprio CPF em jogo, e eventualmente tem de tentar fazer uma organização altamente estruturada não cumprir a legislação vigente. Apostaria que o jogo vai ser um empate sem gols. Nem vão deixá-lo fazer bobagem, nem ele vai cometer nenhuma audácia. Mas pode haver o que já ocorria na administração Levy: muito mais suspender e descontinuar programas do que os realizar. Estou abrindo meu coração para os leitores para que as pessoas se desarmem.
Com toda minha experiência, cheguei lá e não enxerguei nada. Vou ajoelhar no milho, na frente do presidente e pedir perdão a ele pela minha imbecilidade e de todos os presidentes que passaram por lá e de todas as CPIs que ocorreram. Vamos ser os 50 idiotas do ano (se houver caixa-preta a abrir)."
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BASTOU UM DIA SEM COMBUSTÍVEL PARA A USINA DE CRISES, E A BOLSA DE VALORES VOLTOU A SE APROXIMAR DA MARCA DOS 100 MIL PONTOS. COM ALTA DE 1,82%, FECHOU AOS 99,4MIL PONTOS. O DÓLAR TAMBÉM ENCONTROU ESPAÇO PARA DESINFLAR, COM BAIXA DE 1,05%, PARA R$ 3,86.
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Pelo Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas, a atividade econômica no Brasil acumula queda de 0,9% no trimestre móvel fevereiro, março e abril. Para voltar ao positivo, será preciso acelerar nos próximos meses. A conta ficou alta.
MARTA SFREDO
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